Pelo menos 50 famílias trabalham atualmente na separação e comercialização de materiais recicláveis em duas cidades do Vale do Ivaí, que podem ser consideradas exemplos a partir de modelos distintos de destinação de resíduos sólidos urbanos, Borrazópolis e Ivaiporã. Os dois municípios estão entre os poucos do país a contemplar dentro do projeto de gestão de resíduos a reciclagem do lixo orgânico.
A destinação do lixo urbano é, sem dúvida, um dos maiores desafios ambientais do ponto de vista das cidades. E poucas podem de fato comemorar avanços significativos neste 5 de junho, Dia do Meio Ambiente. Para se ter ideia do tamanho do desafio, basta imaginar que, em média, cada pessoa produz diariamente perto de um quilo de lixo. O que se produz de lixo por ano no país daria para encher o estádio do Maracanã mais de 200 vezes.
Com pouco mais de 6 mil habitantes, Borrazópolis hoje pode dizer que consegue dar destino adequado a 100% do lixo urbano produzido diariamente. Todo o material da coleta, mesmo o que não é separado já na casa das pessoas, acaba sendo separado na usina de reciclagem, que é gerida pela Associação dos Catadores de Materiais Reciclados de Borrazópolis (Acamarb), que tem 17 associados e mais alguns diaristas, totalizando 20 famílias locais.
Todo o material reciclável é comercializado pela entidade e todo o lixo orgânico acaba sendo transformado em adubo, que também é comercializado. Para o aterro sanitário, só vai o material orgânico não contaminado, como folhas das árvores, resultado da varrição das ruas.
O prefeito de Borrazópolis, Dalton Moreira, explica que a Acamarb já opera há mais de 5 anos, fazendo a coleta e a separação. Agora, anuncia, a prefeitura pretende ampliar o contrato com a associação, passando a ela também os serviços de varrição. “Nossa visão de futuro é ampliar esse programa e continuar investindo em melhorias em nosso projeto, ampliando as ações de educação ambiental, por exemplo, de forma que todo o lixo já saia devidamente separado de cada uma de nossas casas”, diz.
Moreira não esconde o orgulho do programa. “É uma beleza ver a usina funcionando, a destinação adequada para todo o lixo urbano. Isso significa emprego e renda para as famílias da associação, mas significa também qualidade de vida e respeito ao meio ambiente em nossa cidade”, diz.
O presidente da Acamarb, Alessandro Francisco de Andrade, explica que a associação é remunerada mensalmente em R$ 38 mil pela administração municipal. Pouco mais de R$ 20 mil são utilizados para a folha salarial. O restante é investido no pagamento de uniformes, auxílio alimentação e nos custos da associação. O salário de cada associado é de R$ 1.430, complementado mensalmente com os resultados da comercialização dos reciclados, o que rende mais algo em torno de R$ 600 a cada associado, ao mês.
Alessandro diz que a associação transformou a realidade dessas famílias. “Antes da associação o pessoal até brigava por papelão, na rua. Hoje não. Têm salário, a gente paga INSS, tem uniforme, auxílio alimentação. E o orgulho de fazermos um trabalho importante para a cidade e para o meio ambiente”, afirma. “Hoje a gente é respeitado, trabalha legalizado”.
Ivaiporã prepara projeto de compostagem
O programa de coleta seletiva de lixo, em Ivaiporã, é fonte de renda para 28 pessoas que integram a Cooperativa de Materiais Recicláveis de Ivaiporã (Copemari), presidida por Greiciele Aline Arcanjo Allein.
A Copemari realiza a coleta e a triagem dos recicláveis da cidade e distritos. De acordo com Denise Kuminski, diretora de Meio Ambiente e de Serviços Urbanos da prefeitura de Ivaiporã, a cidade gera diariamente perto de 22 toneladas de resíduos, sendo 25% de recicláveis, 13% de rejeitos e 62% de orgânicos. A cidade vai começar a trabalhar, em aproximadamente um mês, com a compostagem dos resíduos orgânicos, que atualmente vão para a trincheira do aterro sanitário.
Denise diz que essa etapa do programa já está em fase de finalização de correção das baias, com o revolvedor devidamente instalado, mas que ainda depende de pequenas adequações para funcionamento.
A prefeitura dá suporte para a cooperativa, mantendo no aterro retroescavadeira, trator de esteira, caminhão caçamba e equipamentos para operacionalização, além de bancar dois caminhões com motoristas para a coleta e repassa mensalmente R$ 14 mil para a cooperativa pare remunerar o trabalho.
Segundo Denise Kuminski, o programa de reciclagem atualmente não contempla nem metade da população. Daí a priorização da educação ambiental para aumentar participação no processo.
Segundo ela, o município tem capacidade para gerar 135 toneladas/mês de reciclados, o que atualmente não passa de 50 toneladas. “Estamos trabalhando na rede de educação para sensibilizar os jovens e crianças em idade escolar”, informa.
Trabalho com orgulho, diz coletora