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Municípios da região avançam na reciclagem de resíduos orgânicos

Claudemir hauptmann

| Edição de 03 de junho de 2022 | Atualizado em 03 de junho de 2022

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Pelo menos 50 famílias trabalham atualmente na separação e comercialização de materiais recicláveis em duas cidades do Vale do Ivaí, que podem ser consideradas exemplos a partir de modelos distintos de destinação de resíduos sólidos urbanos, Borrazópolis e Ivaiporã. Os dois municípios estão entre os poucos do país a contemplar dentro do projeto de gestão de resíduos a reciclagem do lixo orgânico.

A destinação do lixo urbano é, sem dúvida, um dos maiores desafios ambientais do ponto de vista das cidades. E poucas podem de fato comemorar avanços significativos neste 5 de junho, Dia do Meio Ambiente. Para se ter ideia do tamanho do desafio, basta imaginar que, em média, cada pessoa produz diariamente perto de um quilo de lixo. O que se produz de lixo por ano no país daria para encher o estádio do Maracanã mais de 200 vezes. 

Com pouco mais de 6 mil habitantes, Borrazópolis hoje pode dizer que consegue dar destino adequado a 100% do lixo urbano produzido diariamente. Todo o material da coleta, mesmo o que não é separado já na casa das pessoas, acaba sendo separado na usina de reciclagem, que é gerida pela Associação dos Catadores de Materiais Reciclados de Borrazópolis (Acamarb), que tem 17 associados e mais alguns diaristas, totalizando 20 famílias locais.

Todo o material reciclável é comercializado pela entidade e todo o lixo orgânico acaba sendo transformado em adubo, que também é comercializado. Para o aterro sanitário, só vai o material orgânico não contaminado, como folhas das árvores, resultado da varrição das ruas.

O prefeito de Borrazópolis, Dalton Moreira, explica que a Acamarb já opera há mais de 5 anos, fazendo a coleta e a separação. Agora, anuncia, a prefeitura pretende ampliar o contrato com a associação, passando a ela também os serviços de varrição. “Nossa visão de futuro é ampliar esse programa e continuar investindo em melhorias em nosso projeto, ampliando as ações de educação ambiental, por exemplo, de forma que todo o lixo já saia devidamente separado de cada uma de nossas casas”, diz.

Moreira não esconde o orgulho do programa. “É uma beleza ver a usina funcionando, a destinação adequada para todo o lixo urbano. Isso significa emprego e renda para as famílias da associação, mas significa também qualidade de vida e respeito ao meio ambiente em nossa cidade”, diz.

O presidente da Acamarb, Alessandro Francisco de Andrade, explica que a associação é remunerada mensalmente em R$ 38 mil pela administração municipal. Pouco mais de R$ 20 mil são utilizados para a folha salarial. O restante é investido no pagamento de uniformes, auxílio alimentação e nos custos da associação. O salário de cada associado é de R$ 1.430, complementado mensalmente com os resultados da comercialização dos reciclados, o que rende mais algo em torno de R$ 600 a cada associado, ao mês.

Alessandro diz que a associação transformou a realidade dessas famílias. “Antes da associação o pessoal até brigava por papelão, na rua. Hoje não. Têm salário, a gente paga INSS, tem uniforme, auxílio alimentação. E o orgulho de fazermos um trabalho importante para a cidade e para o meio ambiente”, afirma. “Hoje a gente é respeitado, trabalha legalizado”.


Ivaiporã prepara projeto de compostagem

O programa de coleta seletiva de lixo, em Ivaiporã, é fonte de renda para 28 pessoas que integram a Cooperativa de Materiais Recicláveis de Ivaiporã (Copemari), presidida por Greiciele Aline Arcanjo Allein.

A Copemari realiza a coleta e a triagem dos recicláveis da cidade e distritos. De acordo com Denise Kuminski, diretora de Meio Ambiente e de Serviços Urbanos da prefeitura de Ivaiporã, a cidade gera diariamente perto de 22 toneladas de resíduos, sendo 25% de recicláveis, 13% de rejeitos e 62% de orgânicos. A cidade vai começar a trabalhar, em aproximadamente um mês, com a compostagem dos resíduos orgânicos, que atualmente vão para a trincheira do aterro sanitário. 

Denise diz que essa etapa do programa já está em fase de finalização de correção das baias, com o revolvedor devidamente instalado, mas que ainda depende de pequenas adequações para funcionamento. 

A prefeitura dá suporte para a cooperativa, mantendo no aterro retroescavadeira, trator de esteira, caminhão caçamba e equipamentos para operacionalização, além de bancar dois caminhões com motoristas para a coleta e repassa mensalmente R$ 14 mil para a cooperativa pare remunerar o trabalho.

Segundo Denise Kuminski, o programa de reciclagem atualmente não contempla nem metade da população. Daí a priorização da educação ambiental para aumentar participação no processo.

Segundo ela, o município tem capacidade para gerar 135 toneladas/mês de reciclados, o que atualmente não passa de 50 toneladas. “Estamos trabalhando na rede de educação para sensibilizar os jovens e crianças em idade escolar”, informa.


Trabalho com orgulho, diz coletora

A presidente da Copemari, Greiciele Aline Arcanjo Allein lembra que ela mesma, há pouco mais de dois anos, era uma desempregada. Encontrou trabalho na cooperativa, onde atuou como coletora, no caminhão, depois foi para o barracão de triagem, entrou para a diretoria e hoje preside a entidade. 
A entidade ganha por produção. Ela conta que, do repasse da prefeitura, a entidade tira as despesas, como INSS, ICMS, PIS e Cofins e faz uma reserva legal para garantir o 13º. Salário.
Considerando o repasse da prefeitura e o faturamento com a venda de reciclados, a receita bruta da Copermari oscila entre R$ 38 mil e R$ 40 mil. Ao final de cada exercício mensal, cada cooperado acaba ficando com rendimentos na casa de R$ 1,5 mil e R$ 2 mil.
“Para além da renda, da sobrevivência, a gente tem orgulho pelo que faz, porque entende a importância do nosso trabalho para o meio ambiente”, diz Greiciele. Para ela, todas as pessoas deveriam saber como funciona o processo de coleta e seleção do lixo para entender a importância e os desafios. “Só estando aqui dentro para entender o quanto a gente gera de lixo no dia a dia e do tamanho do problema que isso representa numa sociedade de consumo”, afirma. Para ela, isso permitiria a todos pensar a respeito e a conhecer como é a logística reversa do consumo, que é a destinação adequada dos resíduos.