A construção do abatedouro de aves e da fábrica de ração anunciadas para este ano em Ivaiporã foi adiada. O anúncio foi feito anteontem pelo investidor Sidinei Donizete Bottazzari, da Agroindustrial Vale do Ivaí S.A durante reunião no salão nobre da Prefeitura. Em 2016, a holding formada pela Jaguafrangos, de Jaguapitã (sócia majoritária com 83%) e 17 investidores da região, recebeu a cessão de terreno do município com área de 10,5 alqueires na rodovia PR-466 para as obras.
Conforme Bottazari, o país vive hoje um momento muito delicado, com as exportações de frango travadas e o varejo manobrando compras à espera de mais quedas nos preços. Segundo ele, nessa situação de crise, fica muito difícil realizar os investimentos previstos de mais de R$ 70 milhões.

Ele relata que a operação “Carne Fraca” em 2017, da Polícia Federal, foi um “desastre terrível para as exportações”. “Eles deveriam ter dito que no Ministério da Agricultura tem 0,2% dos fiscais que são desonestos. Mas não, foram dizer que os certificados eram frios, pagava-se dinheiro para o fiscal assinar certificado de carne estragada. Mentira, isso nunca existiu no Brasil. E, infelizmente, era o momento que o mundo esperava para dificultar a entrada do produto brasileiro lá fora e aproveitaram essa situação para cortar as exportações ou sobretaxar nossos produtos”, enfatizou.
Segundo ele, com isso, o mercado externo diminuiu mais de 100 mil toneladas do volume que era vendido até 2017. “Isso tudo está trazendo as dificuldades para o segmento da avicultura. E eu, que estou conduzindo esses investimentos aqui em Ivaiporã, não posso colocar os nossos parceiros nesse negócio enquanto não ver o mercado clarear”.
Para o investidor, o momento é de cautela. Mesmo com as dificuldades momentâneas, ele se mostrou disposto a continuar com o projeto. “Neste momento, não temos condições de determinar uma data para iniciar as obras. Mas, deixamos muito a vontade o Município caso tenha outro parceiro com melhores condições do que a nós e queira encabeçar o projeto. Eu, da minha parte, não criaria a menor dificuldade. Pelo contrário, ajudaríamos a desenvolver o projeto que é fantástico”. Bottazari revelou que só com os projetos arquitetônicos e complementares foram gastos quase
R$ 500 mil.
Ele também se mostrou disposto a cumprir a cláusula do contrato de cessão de direito do terren. Se, por algum motivo, a construção da obra não fosse iniciada no prazo determinado, o terreno seria avaliado e a empresa teria obrigação de adquirir o imóvel cedido. “Somos parceiros. Se a Prefeitura resolver que devemos exercer a cláusula, nós vamos cumprir. Se, porventura nesse período aparecer alguém que queira desenvolver esse empreendimento, nós repassamos isso para que o projeto seja dado continuidade”, disse o investidor.
Situação será levada à Câmara
O prefeito de Ivaiporã, Miguel Roberto do Amaral (PSDB), disse que a prefeitura deve analisar os passos a serem seguidos a partir de agora. “Reunimos aqui lideranças, avicultores, presidentes de associações e nos próximos dias vamos refinar essa conversa com a Câmara de Vereadores para tomar uma posição”.
Ele lembrou que quando a Jaguafrangos iniciou o projeto na região eram apenas 17 produtores, mas atualmente são 40 aviários. “Temos tranquilidade porque, embora o início das obras tenha sido adiado, o projeto continua com a integradora, que traz como resultado uma movimentação anual de
R$ 120 milhões para a região. Sabemos que isso vai continuar. Assim que nossa economia der sinais positivos, sabemos também que o abatedouro se tornará realidade”.
O ex-prefeito Luiz Carlos Gil (PSDB), que também participou da reunião, elogiou a transparência que a situação está sendo debatida. “Gostei muito da sinceridade do empresário de vir aqui e colocar a real situação. Apesar da dificuldade do setor, ele mostra que é honesto e está pagando religiosamente os avicultores, não está desalojando e vem fomentando a avicultura na região. Eu entendo que nós temos, sim, que dar mais um prazo de seis meses ou um ano, para que o setor se recupere e ele possa seguir com o projeto. Até porque nenhum empresário hoje se sente confiante em fazer grandes investimentos”.