Uma das medidas adotadas pelo Governo Federal a fim de acabar com a greve dos caminhoneiros foi a criação de uma tabela de preços mínimos para o frete. No entanto, a decisão tem recebido críticas do setor industrial e agropecuário. Na região, empresas afirmam que os novos preços têm gerado transtornos e impactam diretamente nos lucros. Situação tem gerado atritos até mesmo entre ministros.

A tabela de preços mínimos de frete foi publicada no último dia 30. De acordo com a resolução da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a tabela base é dividida por tipo de carga (granel sólido, granel líquido, refrigerado, produtos perigosos e carga geral) e por distância. A cada 100 quilômetros, o valor mínimo a ser pago pelo frete é alterado. A ANTT também disponibilizou na Internet uma planilha para que o caminhoneiro pondere o valor-base pela quantidade de eixos e pela idade do seu veículo, o que também vai afetar o valor do frete.
A situação gerou críticas do setor industrial. De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias Moveleiras de Arapongas (Sima), Irineu Munhoz, a medida é vista com preocupação. “A imposição da tabela de frete tem trazido prejuízos. Alguns fretes dobraram de valor e, na situação econômica atual, não há como repassar para o comprador esse custo”, destaca.
Ele aponta ainda um impacto mais imediato da nova medida. “Contratos para entrega de mercadorias que foram assinados antes da greve com previsão de entrega futura não previam esse valor de frete. Com os produtos sendo entregues agora e o frete bem mais alto do que na época da assinatura do contrato, as empresas estão perdendo margem de lucro”, diz. De acordo com o Sima, as indústrias moveleiras de Arapongas transportam suas mercadorias, na maioria das vezes, utilizando caminhões de autônomos.
A situação também afeta cooperativas agropecuárias. Everson de Souza, gerente da unidade da Cocamar de Apucarana, afirma que a nova tabela prejudica o transporte de grãos. “Gera um transtorno. Para que não haja um desequilíbrio nas contas, acabamos tendo que atrasar em até dois dias a entrega de alguns itens”, afirma.
Ele defende que o governo repense a medida. “Acho que precisa ser algo melhor estudado, analisado mais profundamente. É preciso rever esta situação, de modo que se chegue a um acordo justo. Se for algo novamente arbitrário, pode gerar novos problemas, como os que aconteceram recentemente”, conta, fazendo alusão à greve dos caminhoneiros, que durou 10 dias e foi finalizada no último dia 30.
Ministros divergem sobre medida
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse ontem que a tabela do frete acordada com os caminhoneiros grevistas será mantida. Ele disse que poderão ser feitas correções apenas em casos pontuais. A declaração vai de encontro ao que havia dito, no mesmo dia, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi.
“A tabela será mantida. Erros ou omissões devidamente comprovados poderão ser corrigidos a qualquer tempo”, disse Padilha. Segundo ele, as alterações podem ser eventualmente realizadas em audiência pública da ANTT. As declarações foram dadas após reunião do ministro com representantes dos caminhoneiros.
Mais cedo, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, havia afirmado que a ANTT vai rever a tabela de preços de frete divulgada após acordo do presidente Michel Temer com representantes dos caminheiros. "A ANTT vai buscar fazer uma readequação dos valores. Ninguém está querendo fugir do acordo que o presidente fez. Agora, que ele seja justo para todos os lados", disse.
A agência federal informou que publicará ajustes em breve, com "dados mais detalhados" e comunicou que o assunto "vem sendo discutido como prioridade desde a semana passada". A possibilidade de mudança irritou representantes dos caminhoneiros, que ameaçaram fazer novas paralisações caso o acordo com o governo federal não seja cumprido.
Em 2017, o Ministério da Fazenda havia criticado a possibilidade de preço mínimo para o frete. A questão foi analisada porque estava em discussão como projeto de lei. No parecer, o ministério alegava que os valores tabelados restringem a competição e elevam os preços do transporte de cargas. De acordo com o documento, o valor mais alto nos fretes acaba sendo pago, no final, pelo consumidor. (COM FOLHAPRESS)
Medida pode encarecer alimentos
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também criticou a adoção de uma tabela com preços mínimos para o transporte de cargas, apontando que a medida gera prejuízos e danos para a economia. Pelas estimativas da entidade, o setor de alimentação será o mais afetado, incluindo arroz, aves e suínos com percentuais de reajuste superando 60% nos fretes, que deverão ser repassados para os consumidores.
Representando as associações e federações estaduais de indústria, a CNI diz que está avaliando possíveis medidas judiciais e administrativas contra as normas que estabeleceram valores mínimos de transporte de carga para o Brasil, que foi uma das medidas negociadas com os caminhoneiros para pôr fim à greve da categoria.
Os cálculos da CNI apontam que o transporte de arroz pelas rodovias do país terá aumento de 35% a 50% no mercado interno e de 100% para exportações. No caso da indústria de aves e suínos, a previsão é que o impacto sobre o custo do transporte será em torno de 63%.
O frete de rações para alimentar os animais tende a aumentar 83%. No setor de papel e celulose, a alta do preço para transportar os produtos será de 30%. Segundo a assessoria de imprensa da entidade, o aumento no valor do frete leva à elevação de preços das mercadorias que chegam às prateleiras dos consumidores.
Gás de cozinha ainda em falta
Uma semana depois do fim da paralisação, a maioria das revendas de gás de cozinha em Apucarana e Arapongas continua sem o produto em estoque. Os botijões de 13 quilos são encontrados com maior facilidade em distribuidoras, que têm vendido direto para o consumidor final. Em alguns locais, o produto tem sido encontrado custando até R$ 15 a mais do que no período anterior à greve dos caminhoneiros.
Dono de uma revendedora em Apucarana, Rovilson Borbolato afirma que não recebe um carregamento há 10 dias. “Não sei nem o que dizer para os clientes que ligam pedindo gás. Estou ‘no vermelho’, preciso trabalhar, mas sem receber os botijões, não posso fazer nada”, diz ele.
Quando as revendedoras recebem os carregamentos, eles chegam em um volume bem abaixo da expectativa: entre 10 e 30 botijões, insuficiente para atender a demanda. “O pior de tudo é não ter expectativa de normalização da situação”, afirma ele.
De acordo com o Sindicato das Empresas de Atacado e Varejo de Gás Liquefeito de Petróleo (Sinegás), a situação acontece porque a logística do setor é complexa e também por causa da grande demanda. Outra situação que tem acontecido é a venda direta do produto nos distribuidores, sem o repasse para as revendas. Alguns estabelecimentos, inclusive, estão praticando preço acima do comum. Antes da greve, era possível encontrar o produto a R$ 60, sem taxa de entrega em domicílio. Hoje, também sem a taxa, é possível encontrar botijões a R$ 75.