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Tragédia em Jandaia do Sul reabre debate sobre cancelas na linha férrea

Fernando Klein

| Edição de 13 de março de 2023 | Atualizado em 13 de março de 2023
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O acidente com um ônibus escolar que transportava alunos da Apae e um trem da Concessionária Rumo em Jandaia do Sul, na última quinta-feira (9), reabriu o debate sobre a situação das passagens de nível em perímetros urbanos no Paraná. Três pessoas (duas crianças e uma mulher) morreram e nove ainda estão internadas, sendo oito em estado grave. Lideranças políticas cobram soluções por parte da Rumo e defendem a instalação de cancelas automáticas. A empresa anunciou recentemente a instalação de sensores inteligentes em 15 cruzamentos do Paraná, mas o cronograma de instalação anunciado no ano passado está atrasado. 

O deputado federal Beto Preto (PSD), que é ex-prefeito de Apucarana, apresentou ainda na última sexta-feira (10), um dia após a tragédia, um projeto de lei na Câmara Federal para aumentar a segurança nesses locais. O texto altera a lei federal nº 14.273, de dezembro de 2021, a chamada Lei das Ferrovias, determinando a instalação de cancelas automáticas dotadas com dispositivos sonoros e visuais, além de semáforos de advertência nos cruzamentos rodoferroviários.

“São equipamentos disponíveis e já presentes em muitos cruzamentos de ferrovias com ruas e rodovias, então, é passada a hora de instalar essas cancelas em todos os lugares onde o risco de acidente existir, principalmente nas zonas urbanas”, justifica o deputado.

Na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), a repercussão também foi imediata. Os deputados Soldado Adriano (PP), Alexandre Curi (PSD), Ademar Traiano (PSD), Delegado Jacovós (PL) e Maria Victoria (PP) apresentaram ainda na sexta-feira (10) projeto de lei que estabelece a instalação de diversas sinalizações de trânsito nas passagens de trens, incluindo cancelas automáticas e outros dispositivos. Os deputados Ney Leprevost (União) e o deputado Cobra Repórter (PSD) também cobraram providências. 

Da mesma forma, a situação gera preocupação nos municípios. Após o acidente, o prefeito de Jandaia do Sul, Lauro Júnior (União Brasil), fez uma forte cobrança à Rumo para a necessidade de melhorias nos cruzamentos rodoferroviários. Ele lembrou que o município enviou ofício em maio de 2022 pedindo melhorias “no sentido de aperfeiçoar a sinalização vertical e horizontal nas passagens de nível do município”. No documento, a Prefeitura solicitou a redução da velocidade empregada pelas locomotivas nas áreas urbanas. 

O prefeito de Apucarana, Junior da Femac (PSD), também mostra preocupação com o assunto e destaca a iniciativa do deputado apucaranense Beto Preto. Segundo levantamento da administração municipal, a cidade tem pelo menos 17 passagens de nível. 

“Temos de enfrentar e buscar soluções para os conflitos de mobilidade ligados a trens e o trânsito urbano de carros, motos, bicicletas e pedestres. É importante ouvir os municípios, definir regras de deslocamento de composições, como horário, velocidade, entre outros. O trânsito e a mobilidade devem ser motivo de desenvolvimento social e econômico e não motivo de insegurança e de morte”, afirma o prefeito. 

Apucarana foi incluída no projeto PN Sensoreada, que prevê a instalação desses equipamentos. 

No caso de Apucarana, a iniciativa vai contemplar as passagens em nível das ruas Grande Alexandre, na Vila Nova, e Dom Pedro II, no Jardim América, que representam 43% das ocorrências registradas nos últimos cinco anos dentro do município. O cronograma anunciado pela própria Rumo previa a instalação até o final do ano passado, mas até agora o serviço não foi realizado. 

Familiares de vítimas protestam na Câmara de Jandaia do Sul

Munidos de faixas e balões, familiares das vítimas do acidente que resultou na morte de duas alunas e da cozinheira da Apae fizeram na noite de ontem um protesto para pedir justiça e reforço das medidas de segurança no transporte escolar. O grupo se reuniu na Praça do Café e seguiu para Câmara Municipal, onde ocupou as galerias. 

Um dos manifestantes era Adriano Pimenta, pai de Kimberly Caroline Ribeiro Pimenta, de 15 anos, e tio de Maria Vitória Gomes Ferreira, de 11 anos. As duas  primas morreram no local do acidente.

“Nós só queremos que tomem providências que já deveriam ter sido tomadas há mais tempo para ninguém mais passe pelo que nós passamos, pelo que eu passei, pelo que meu irmão está passando com duas crianças feridas”, comenta o pai que reconheceu o corpo da filha no local do acidente. 

Para Adriano, o acidente mostra que é preciso adotar segurança e fiscalização no setor. “Tenho mais filho para colocar no ônibus e não é fácil. É preciso fiscalizar melhor os motoristas, pelo que sabemos houve reclamação desse motorista. Eu acho que quem dirige ônibus com crianças tem que ser muito bem preparado”, comenta.

A terceira vítima do acidente é a cozinheira Isabel Aparecida Gimenes Figueiredo, 55 anos, que faleceu na noite de sexta-feira, no Hospital da Providência. Ela foi velada no último sábado, após a família autorizar doação de órgãos. Segundo o último balanço divulgado pela Secretaria de Saúde de Jandaia do Sul ainda há nove ocupantes do ônibus internados, sendo 8 em estado grave. (ADRIANA SAVICKI)

Rumo é contra instalação de cancelas

Em nota, a concessionária Rumo afirmou que o projeto PN Sensoreada está em desenvolvimento em parceria com municípios, que serão os responsáveis, junto com órgãos de trânsito pela gestão do sistema. A concessionária, no entanto, não atualizou o cronograma de instalação da tecnologia, que prevê sensores que identificam a aproximação do trem e acionam a sinalização do semáforo - sonora e luminosa -, alertando os motoristas e pedestres.A concessionária considera o mecanismo eficaz e cita como exemplo o equipamento já instalado no cruzamento da rua Tancredo Neves em Jandaia do Sul – o local onde ocorreu o acidente com o ônibus da Apae, no entanto, não conta com o dispositivo. “Foram sete acidentes entre 2018 e 2021 (nesse cruzamento com os sensores). Desde a implantação do dispositivo em junho de 2021, não houve nenhum novo caso”, diz a empresa, salientando que a escolha do local ocorreu em comum acordo com a prefeitura.Na visão da empresa, a instalação de cancelas proposta pelos deputados “não se mostra efetiva no dia a dia, uma vez que o respeito às normas de trânsito está condicionado ao comportamento dos motoristas”. “A cancela não é capaz de impedir práticas imprudentes na direção dos veículos. E, em caso de falha mecânica ou vandalização da estrutura, o motorista pode ser induzido ao erro e estar sujeito a acidentes graves”, completa a empresa.