Foram sepultados ontem, sob clima de forte comoção, os corpos do subtenente Luiz Antônio Abba, 51 anos e do soldado Robson Alves Medina, 36 anos. Os dois policiais militares foram assassinados pelo colega de farda, o soldado Lucas Santos Araújo, 26 anos, na manhã de anteontem dentro da 6ª Companhia Independente de Polícia Militar (PM) em Ivaiporã, durante troca de turno. Lucas Santos também morreu. A comandante geral da PM, coronel Audilene Rosa de Paula Dias Rocha, que acompanhou as cerimônias fúnebres, declarou luto oficial de três dias na corporação e classificou as mortes como uma tragédia. A motivação do ataque ainda está sob investigação.

O tiroteio começou por volta das 7h30, quando o soldado Santos chegava para assumir o serviço e deparou-se com o subtenente Abba e o soldado Medina em uma viatura. Segundo testemunhas, ele chegou ao lado do carro e atirou. Um terceiro policial que estava no banco traseiro escapou. Santos chegou a trocar tiros com outros colegas que estavam na sede da companhia e, na sequência, atirou contra a própria cabeça em frente à entrada da companhia.
A coronel Audilene Rocha destacou ontem que as mortes são uma grande tragédia. “É uma situação que os próprios policiais não esperavam e não sabemos, até o momento, o que levou o policial Santos a agir dessa forma, mas todos os procedimentos já estão encaminhados e é um momento de grande perda para a Polícia Militar e seus familiares”, comenta.
Ainda conforme coronel Audilene, a Polícia Militar está dando total apoio aos familiares. “Não só os familiares dos dois policiais que foram executados, mas também aos familiares do policial Santos”, relata. Segundo a comandante, os policiais que presenciaram e se envolveram com a situação também vão receber acompanhamento.
Os três policiais foram sepultados em suas cidades de origem com honras militares. Entre as vítimas, o subtenente Abba, sepultado no final da manhã de ontem em Ivaiporã, era o policial com mais experiência. Ele estava na corporação há 29 anos e, além da atividade policial, era pastor evangélico na comunidade do Jardim Itaipu da Igreja Assembleia de Deus. Abba também era um dos coordenadores do encontro anual de Militares Evangélicos do 2º Comando Regional de Polícia Militar (CRPM) que acontece todos anos em Ivaiporã. Centenas de pessoas acompanharam o velório, realizado na sede da Assembleia de Deus, e o sepultamento Cemitério Municipal. O caixão seguiu em carro do Corpo de Bombeiros. O subtenente havia sido um dos responsáveis por um procedimento disciplinar respondido pelo soldado Santos.
Coronel Fabio Mariano de Oliveira, comandante do Corpo de Bombeiros do Paraná, também esteve no velório e sepultamento do subtenente Abba. Em agosto, ele participou do encontro promovido em Ivaiporã. “Ele era um exemplo de policial militar e obreiro na igreja. Galgou todas as graduações, soldado, cabo, sargento e agora subtenente e fazia esses encontros de militares que marcaram a cidade de Ivaiporã. A segurança pública do Paraná está de luto e a população também bastante consternada”, comenta.
Elizabeth Abba, filha do subtenente, destacou a admiração que tinha pelo pai. “O quanto que eu pude declarar o meu amor por ele, eu declarei. Ele era minha âncora. Agradeço a todos os policiais, todos os presentes que falaram palavras de carinho e o que vou levar de meu pai é esse amor pela obra de Deus”, comentou.
6ª CIPM
em luto
A segunda vítima, o soldado Robson Medina, estava na corporação desde 2016. Natural de Arapuã, onde seu corpo foi sepultado na tarde de ontem, ele deixa esposa, uma filha de onze anos e um filho de um ano de idade.
Cunhado do soldado, o motorista de ambulância Sérgio da Silva, falou da perda irreparável para a família e para a Polícia Militar. “Ele era pessoa do bem, não tinha maldade. Bom marido, ótimo pai, companheiro de todos os familiares, amigos e colegas de farda", destaca.
Já o soldado Santos, autor dos disparos, era natural e mantinha a residência em Pitanga, deixa a esposa e não tinha filhos. Ele estava na Polícia Militar também desde 2016. O corpo de Santos foi sepultado no Cemitério Municipal de Pitanga.
Conforme capitão Élio Boing, comandante da 6ª CIPM, a corporação foi surpreendida com a tragédia. “Infelizmente família de três policiais militares choram a perda de seus filhos e entes queridos”, comenta.

Motivação do crime está sob investigação
Segundo a coronel Audilene Rocha, um Inquérito Policial Militar (IPM) vai apurar as circunstâncias das mortes. “Não tem palavras que possam explicar isso. Mas, em princípio, o policial militar não tinha problemas ou transtornos psicológicos. Saiu de casa, conforme relatos da esposa, normalmente e no caminho pode ter acontecido que não sabemos o que aconteceu”, assinala coronel Audilene. Há suspeita de que o soldado Santos tenha disparado também em um veículo de um civil na PR-466 pouco antes de chegar na sede da 6ª CIPM. O carro foi encaminhado para perícia.
A comandante destaca que a Polícia Militar monitora os casos em que são detectados problemas psicológicos na corporação. “Em eventos anteriores, que nós já tínhamos detectados problemas com outros policiais e eles foram encaminhados e estão fazendo tratamento. O trabalho do policial militar é um trabalho gera um estresse muito agudo, muito específico”, comenta. Ela afirma, entretanto, que apesar do procedimento padrão e dos testes psicológicos de ingresso na corporação, falhas podem ocorrer.
Ela confirmou que Santos respondia a dois processos disciplinares em faltas consideradas leves que não motivariam uma expulsão. Um dos processos era por conduta desrespeitosa durante o hasteamento da bandeira, uma prática que ocorre regularmente nas corporações militares. “Em outro, ele fez uma falsa denúncia na corporação. Este processo estava em fase de recurso e ele, inclusive, não tinha cumprido ainda a punição”, comenta. O fato do subtenente Abba ter atuado no procedimento está sendo avaliado, mas não é confirmado como motivação dos fatos. “O que se percebe é que ele tinha dificuldade de relacionamentos, não se abria, não conversava era uma pessoa muito fechada. Esse é o único fator que foi identificado até agora a respeito dele”, completa coronel Audilene.
Além do IPM, as mortes serão alvo de um inquérito da Polícia Civil. Anteontem, peritos do Instituto de Criminalística de Londrina estiveram no local dos disparos para levantamento de informações.