Um ano após a maior tragédia de Jandaia do Sul, familiares das vítimas do acidente do ônibus da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) com um trem da concessionária Rumo cobram justiça e segurança nas passagens de nível da cidade. O acidente causou cinco mortes, deixou 23 feridos , colocou em xeque a segurança nos cruzamentos rodoferroviários e abalou a vida de muitas de famílias.
Entre as pessoas diretamente afetadas pelo ocorrido está Sueli Aparecida da Silva, mãe do pequeno João Lucas dos Santos Silva, de 8 anos. Ele morreu 14 dias depois do acidente no Hospital Metropolitano de Sarandi. “A minha vida agora é chorar, porque eu não sei mais viver sem o meu filho, está sendo muito difícil. É um dia após o outro, mas está muito difícil até falar sobre aquele dia. Aquele motorista apagou o sorriso do João, apagou tudo do João”, lamentou Sueli.
A mãe lembra com saudades do filho e lamenta que nenhuma providência ainda tenha sido tomada para evitar que outras famílias passem pela dor que ela vive hoje. “A cancela que tinha que ter não tem, só tem uma placa lá, mas tem gente que respeita e outros não. Peço para as autoridades tomarem uma providência, não deixar que o pior aconteça novamente”, cobrou.
Conforme Sueli, os processos criminais e cíveis em relação ao acidente estão em andamento, porém até agora ela não viu efetivamente nenhuma providência sendo tomada. “Nós, pais, queremos justiça. Esse acidente foi brutal. As crianças são o nosso bem maior”, declarou Sueli.
Além de João, também faleceram as primas Maria Vitória Gomes Ferreira, com 11 anos, e Kimberly Caroline Ribeiro Pimenta, 15 anos, mortas no dia do acidente, e Isabel Aparecida Gimenes Figueiredo, 55 anos, que era cozinheira da Apae. Uma aluna, Maria de Lourdes Henrique, de 56 anos, que sobreviveu à colisão, faleceu dias depois na casa da família.
Luciene Galo, mãe de Raphael Retamiro Sote, um dos alunos, relatou que nem ela, nem outras famílias receberam qualquer auxílio. “Em relação a este caso, nós não temos nada, absolutamente nada. Não teve assistência, não teve indenização, não teve psicóloga. Eu não tive tratamento psicológico, meu filho não teve, a gente não teve nenhum tipo de apoio” explicou.
As marcas emocionais que o acidente deixou em Raphael e nos outros, segundo a mãe, são desafios diários para se conviver. “O Raphael mesmo, quando ouve barulho do trem passando ou quando começa a chover, porque na hora do acidente estava chovendo, ele se esconde debaixo da cama. Eu não sei como lidar, porque ele não fala muito. Então é muito delicado o que estamos passando”, classifica.
Reparação de danos na justiça
Ângelo da Silveira, advogado que representa os familiares de João Lucas e de outras vítimas do acidente, informa que o processo cível que responsabiliza a prefeitura tramita na Vara da Fazenda Pública de Jandaia do Sul e aguarda sentença.
“Os familiares de João Lucas dos Santos Silva buscam na Justiça a reparação pelos danos em ação cível, processo/decisão que não lhes devolverá paz e nem as alegrias que o menino lhes proporcionava, mas, que também possui intuito de mostrar para a sociedade que os culpados não podem se eximir de responder pelo mal que causaram e na extensão dos danos sofridos”, disse o advogado.
A tragédia ensejou muitas discussões na época, incluindo projetos de alteração na legislação federal, e de lá para cá, alguns cruzamentos na região ganharam semáforos. O equipamento, entretanto, não foi instalado no local onde o acidente aconteceu, na Rua Presidente Kennedy. Silveira afirma que não há sinais de medidas ou sinalizações de trânsito no local e nem modificações nos demais cruzamentos de linhas férreas de Jandaia do Sul.
Prefeitura aprimorou sistema de transporte
A chefe do Departamento de Educação e Esportes de Jandaia do Sul, Sheila Cristina da Silva, afirma que muita coisa mudou no sistema de transporte escolar desde o acidente. Segundo ela, o município adotou novas normas de segurança mediante orientação do Ministério Público (MP) além de exigências legais, como a criação de legislação específica para o transporte escolar com a adoção de carteirinhas de estudantes; realização de concurso público para motorista e monitor escolar; georreferenciamento para que os alunos estudem perto de suas casas e evitem o transporte escolar.
O departamento também passou a monitorar as licenças dos veículos do transporte escolar que também são vistoriados conforme prevê a legislação.
Em agosto do ano passado, o motorista que dirigia o ônibus no momento do acidente – que estava com a CNH vencida - foi indicado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Ele responde o processo em liberdade e aguarda julgamento.
A reportagem tentou obter mais detalhes junto ao Ministério Público (MP) que informou que o processo criminal corre em segredo de justiça. De acordo com informações apuradas junto à Prefeitura de Jandaia do Sul, o motorista foi exonerado do cargo logo após ser indiciado.
Rumo destaca conscientização
Em nota, a Concessionária Rumo salienta que a conclusão do inquérito da Polícia Civil do Paraná apontou para direção culposa do motorista do ônibus escolar que avançou a preferencial da linha férrea como causa do acidente.
A nota diz ainda que a concessionária tem se empenhado na conscientização e prevenção de acidentes, realizando diversas campanhas em vários municípios. Sobre os serviços de roçada e manutenção nas proximidades da linha férrea, a empresa disse que mantém diálogos e solicita apoio da administração municipal para executar os serviços de forma periódica, no entanto, o crescimento acelerado da vegetação devido às chuvas recentes tem sido desafiador em toda região Norte do Paraná. Em resposta à alta demanda, a empresa está em processo de contratação de uma nova frente de serviço para agilizar os atendimentos.