Estando de férias com meus filhos, tive a oportunidade de brincar muito mais no jardim gramado que fica nos fundos da casa. Há nele uma casinha (inacabada) que fiz no início da pandemia – até a próxima eu acabo -, um pequeno escorregador com dois balanços na mesma estrutura e um banquinho suspenso. Sei que você, caro leitor e leitora, conseguiu imagem esse cenário maravilhoso, mas descobri há alguns dias que temos um novo morador não desejado – ao menos por mim -, um sapo.
O meu lugar favorito da casa, onde os pássaros cantam o dia todo, agora está marcado pelo animal que mais detesto no mundo todo – ainda que não tenha conhecido muitos animais por aí -. Eu sei que deve estar rindo agora, eu não o culpo, afinal um homem de 35 anos com medo de sapo é quase uma piada. Mas devo revelar que tudo começou quando eu tinha apenas 7 anos e, brincando na rua em dia de chuva, acabei pisando em algo que parecia um saquinho de leite pela metade, molengo, gelado e gosmento. Diferente de baratas que são assassinadas por aqui com a precisão de um sniper americano com chinelos havaianas, eu jamais mataria um sapo, então não se preocupe, essa história não terá um final trágico. O medo poderia me fazer deixar que querer estar nesse lugar – escrevo aqui agora mesmo -, mas eu perderia muitas experiências com isso.
O sapo está em algum lugar, não vou procurá-lo, mas não vou perder nenhum momento por esse medo. A coragem não é a ausência de medo, mas a força para superá-lo. Quando somos crianças isso é mais difícil, principalmente pela diminuição de nossa angústia pelo olhar “maduro” dos adultos. Frases como “deixe de frescura é só um sapo” em nada melhoram a minha relação com os bichinhos, mas pode piorar a minha relação com meus pais.
Quando somos adultos muitos medos nos travam, principalmente o medo da mudança. Entretanto, depois de algum tempo mal lembrávamos do que havia antes da mudança. Para dar um exemplo prático, quando se descobre uma gestação, a alegria é acompanhada de uma série de medos, mas depois de um tempo, é impossível imaginar a vida sem a presença dos pequenos. Quando somos adolescentes, escolher um curso universitário parece o fim do mundo, como se a escolha fosse uma sentença de vida – coisa hoje sabemos ser uma grande mentira. Trocar de emprego, começar ou terminar um relacionamento, encarar novos desafios, tudo isso dá muito medo, mas isso é bom.
Segundo Heidegger, um filosofo pós-metafisico, o desconhecido e o medo são coisas a serem buscadas, definem o indivíduo. A ansiedade, que pode ser resumida como o medo e a noção de não pertencimento ao agora, focado em um futuro que pode ou não existir, pode ser encarada como algo bom quando o previne e o preparo para as escolhas, contudo, se não controlada, apenas nos trava neste lugar fora de temporalidade e muita imaginação.
Encarar o medo é dar a oportunidade do novo ser algo bom, é permitir-se errar e aprender com os erros. Não quero criar sapos para me sentir corajoso, mas a sua pequena existência não pode me impedir de eu brincar com meus filhos.
PS: matar o sapo nunca foi uma opção, isso não acabaria com meu medo, apenas com a existência de um bichinho feio que come outros bichinhos que eu não tenho tanto medo, mas deveria.