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A tecnologia e o processo de crescimento individual e coletivo

Da Redação

| Edição de 16 de fevereiro de 2023 | Atualizado em 16 de fevereiro de 2023

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Eu nasci em 16/03/1988, em breve completarei meus 35 anos. Talvez entre os leitores e leitoras desse texto, eu ainda seja considerado “jovem”, mas para outros tantos, já não me encaixaria em tal definição. Nessas três décadas e meia, tive a oportunidade de perceber algumas mudanças na forma como interpretamos o mundo que talvez os meus filhos jamais possam sonhar. E aí vem a questão, será que evoluímos com essa tecnologia que hoje se mostra “indispensável” em nossa rotina? 

Me lembro dos trabalhos de escola em meados dos anos 90, quando a única fonte de informação eram as tão aclamadas enciclopédias. Íamos até a biblioteca e lá mesmo pesquisávamos os mais variados temas, da biologia a história, tudo em um só livro (em vários volumes). Como não podíamos retirar o “livrão”, já que esse não podia ser emprestado, fazíamos ali mesmo o resumo, pois até para tirar fotocópias (carinhosamente chamadas de xerox) era difícil, seja pela falta de dinheiro ou autorização da bibliotecária. No meu caso, tudo ocorria na biblioteca do Sesc Aeroporto em Londrina, lugar onde também treinava esportes, fazia aulas de teatro e circo (quando o dinheiro dava ou ganhava bolsa). Aquele espaço possuía um aspecto mágico, uma áurea de mudança toda vez que entrava pelas portas de vidro da biblioteca. Foi muita sorte ter tido um espaço para o conhecimento, mas hoje as coisas são um pouco diferentes. 

Se por acaso, alguma palavra me “foge” o significado, sequer me lembro dos dicionários que guardo com carinho na estante, mas apenas uma breve busca no Google resolve. Quisera fosse só isso, pois enquanto professor, sei que cada vez menos – evitando ser pego pelo exagero de dizer nunca – os alunos têm buscado em livros a informação necessária. Não quero aqui ser saudosista, ainda que como historiador eu goste “do velho”, mas ter acesso rápido ao conhecimento não significa de fato tê-lo. A quantidade de informações e a agilidade que chegamos a ela, tira o efeito assombroso do descobrir ante o clique que traz tudo que preciso. A anotação feita diretamente da enciclopédia, foi substituída por um print, na melhor das hipóteses, quando não copiada e colada sem qualquer leitura de seu conteúdo. Muita informação e pouco conhecimento. 

Conhecer é fruto do esforço. Pergunte a qualquer pessoa que tenha passado pela vida acadêmica, em seus mais diferentes níveis, produzir conhecimento é algo solitário, penoso e trabalhoso. Isso não quer dizer que não valha a pena, mas que há um preço a se pagar para avançar do senso comum ao conhecimento científico. A frustração de todo cientista, seja ela das áreas biológicas ou humanas, tal qual de todas as outras, é ser refutado pelo resultado de uma mensagem de WhatsApp repleta de senso comum e sem qualquer preocupação científica. Ciência se refuta com ciência, não com opinião. Quisera o mundo fosse movido por pesquisas científicas que buscassem “negar” seus opositores, ainda que quando se faz ciência de fato, não há inimigos, apenas divergências que respeitamos a existência. 

Quando estamos em sala de aula, ainda temos a ideia de negar a qualquer custo o uso dos aparelhos eletrônicos, posto que sabemos seu uso nada didático. Entretanto, ao invés de negar sua existência, deveríamos tentar torná-lo parte da solução e não responsável pelo problema. Vejo muitos pais que são chamados na escola porque os filhos usavam celulares e, em conversa com eles, percebemos que o exemplo é de casa. Se perguntarem como fazer para que seus filhos leiam mais, digo o que vi uma vez com uma aluna e sua família que aguardavam no carro a saída para um passeio. Todos liam dentro do carro, a mãe no banco do passageiro, o pai no volante e os dois filhos no banco de trás. É como querer que os filhos gostem de repolho, sem nunca os preparar para o almoço. 

A tecnologia muda rotinas, muda pessoas, mas nem sempre (para não dizer nunca) muda caráter. A crítica não é contra a modernidade tecnológica, mas do que fizemos dela. Como disse Baumann, as relações sociais se tornaram efêmeras, ou seja, ainda que eu tenha acesso a muitas pessoas pelo simples clique do meu celular, pouco temos a falar com aqueles que deveriam estar mais próximos. Podemos aprender, crescer e evoluir como indivíduos e sociedade com o uso das tecnologias, inclusive nas salas de aula. O seu bom uso pode encurtar distâncias e aproximar a curiosidade e resposta. O mundo não precisa de respostas rápidas, mas de perguntas certas. Qual é a sua pergunta hoje?