Não sei se você já observou, mas parece que vivemos na era do “feito para durar… até acabar a garantia”. Eletrodomésticos, que antes atravessavam gerações, hoje começam a tossir e gemer antes mesmo de você terminar de pagar as parcelas. Peças de veículos? Quase sempre novas no catálogo, velhas na sua garagem. E aproveito para deixar aqui a crítica aos preços abusivos que as concessionárias e oficinas cobram por qualquer mínimo reparo. Roupas? Uma lavagem e pronto: ganham aquele ar “vintage” que você não pediu.
Minha mãe possuía uma geladeira da década de 1970 que funcionou impecavelmente por mais de três décadas. Quando finalmente parou, o técnico disse que era impossível encontrar peças de reposição - não porque estavam defeituosas, mas porque simplesmente não fabricavam mais. Curiosamente, a geladeira nova que a substituiu durou exatos cinco anos. Coincidência? Dificilmente.
Será isso evolução ou uma estratégia silenciosa para manter o caixa das empresas sempre cheio? Chame de “obsolescência programada”, “versão premium” ou simplesmente “mais um lançamento imperdível” - o fato é que, de tanto comprar e trocar, já nem sabemos se estamos consumindo ou sendo consumidos. As empresas descobriram que a durabilidade é inimiga da receita. Por que vender um produto que dura vinte anos quando podem vender cinco produtos que duram quatro anos cada?
Esta lógica perversa transformou o mercado numa roda-gigante infinita de substituições. Compramos não por necessidade, mas por obsolescência forçada. No fim, talvez a maior durabilidade hoje seja a do próprio ciclo de vendas: rápido, previsível e muito bem calculado para eles. Para nós, sobra a experiência e a conta.