ROGÉRIO RIBEIRO

min de leitura - #

A minoria barulhenta e perigosa

Da Redação

| Edição de 16 de setembro de 2025 | Atualizado em 16 de setembro de 2025

Fique por dentro do que acontece em Apucarana, Arapongas e região, assine a Tribuna do Norte.

O trânsito urbano tem encontrado um dos seus maiores desafios no comportamento de parte dos condutores de motocicletas. Não falo de todos, pois seria injusto generalizar. Porém, a parcela consciente, que deve ser a maior, acaba sendo ofuscada por uma minoria barulhenta e perigosa, que insiste em transformar nossas ruas em pistas de corrida e palcos de exibição de imprudências.

Os escapamentos adulterados, que emitem barulhos ensurdecedores, já não são apenas um incômodo, mas um verdadeiro ataque à saúde e ao sossego das famílias. O descanso do trabalhador, o estudo do jovem, a tranquilidade do idoso, tudo é interrompido pelo ronco agressivo que ecoa nas madrugadas e se repete ao longo do dia. Não há justificativa para tal desrespeito, que atinge indiscriminadamente a coletividade, como se o prazer individual de fazer barulho tivesse mais valor que o direito de centenas de pessoas ao silêncio.

Mas o problema não se restringe ao ruído. O que mais preocupa é a imprudência. A cada dia, novas estatísticas, boletins de ocorrência e relatos de acidentes envolvendo motocicletas escancaram uma realidade dura e repetitiva. E, para surpresa de ninguém, a maior parte dos casos envolve entregadores. Seja pela pressão dos comerciantes, que exigem agilidade nas entregas, seja pela ganância de alguns em multiplicar corridas para aumentar o faturamento, seja, simplesmente, pela irresponsabilidade consciente, a verdade é que se estabeleceu uma lógica perversa em que a pressa vale mais do que a vida.

É comum vermos manobras arriscadas em meio ao tráfego, avanços em sinal vermelho, zigue-zagues entre carros, excesso de velocidade e até disputas informais que beiram a loucura. Essas atitudes não apenas colocam em risco os próprios condutores, mas todos que estão ao redor. O curioso, e trágico, é que a sociedade parece ter se acostumado a esse cenário. Tornou-se quase rotina receber a notícia de um acidente envolvendo motocicletas, muitas vezes moto contra moto, numa ironia cruel de dois imprudentes que se encontram no mesmo espaço e no mesmo tempo. A repetição das tragédias já não causa surpresa, mas deveria nos causar indignação.

Cabe-nos, então, questionar: de onde nasce esse comportamento? É fruto exclusivo da pressão econômica, das condições precárias de trabalho e da exigência de rapidez? Ou será que é também um reflexo de uma cultura de desrespeito, em que a lei parece não se aplicar a todos igualmente? A resposta, talvez, esteja no meio do caminho. De um lado, a urgência dos aplicativos e dos empregadores que premiam a agilidade em detrimento da prudência e, de outro, a irresponsabilidade individual, alimentada pela falsa sensação de impunidade.

Seja como for, não é possível continuar fechando os olhos. A minoria que abusa, que faz do barulho uma arma contra o sossego e da velocidade uma roleta russa diária, precisa ser disciplinada. E isso pode se dar pela razão, através de campanhas de conscientização, educação no trânsito e valorização dos bons exemplos, ou pela força da lei, com fiscalização mais rigorosa, multas efetivas e apreensão de veículos irregulares.

Não se trata de demonizar a motocicleta, meio de transporte acessível, ágil e essencial. Trata-se de colocar limites claros e inegociáveis a comportamentos que colocam vidas em risco. Enquanto prevalecer a lógica do “eu faço o que quero”, nossas ruas continuarão sendo palco de tragédias anunciadas. É hora de transformar essa indignação em ação e exigir que o direito coletivo de viver em segurança fale mais alto que o barulho e a imprudência de uns poucos.