ROGÉRIO RIBEIRO

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Homem da cobra

Da Redação

| Edição de 24 de janeiro de 2023 | Atualizado em 24 de janeiro de 2023

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Continuo mantendo minha opinião de que ainda é cedo para cobrarmos ações mais concretas na área econômica do novo governo. Isto porque acabaram de assumir e não tinham um plano de governo. Estão começando a traçar estes planos à medida que constituem a equipe e tomam conhecimento mais profundo da atuação situação econômica, principalmente a fiscal, do país.

O maior problema não é se o ministro escolhido é ou não o mais qualificado para a função. A questão importante é a qualidade de sua equipe. Isto é mais importante. Outro fator que devemos nos preocupar é com as narrativas iniciais do governo e neste ponto o mais grave está saindo da boca do próprio presidente Lula. Está falando mais que “o homem da cobra”.

As falas recentes sobre discutir uma frente ampla contra o avanço da direita no mundo, a intenção de estreitar relações com países que atentam contra a democracia, a vontade de financiar com recursos do BNDES a infraestrutura produtiva em outros países e a “cereja do bolo” a intenção de se discutir a criação de uma moeda única na América Latina, não estão sendo bem recebidas. Sem sombras de dúvidas temos que nos preocupar com os rompantes de nosso presidente.

É claro que muitas coisas que o governo está anunciando se caracterizam como avanços frente ao que tivemos nos últimos anos, mas é necessário que o presidente “vá devagar com o andor”. Há quem diga que ele está discursando para a “torcida”, somente para alegrar os “convertidos”, mas como “onde há fumaça normalmente há fogo”, temos que nos preocupar com suas falas, mesmo que sejam pensadas ou não.

Há muito o que se fazer para tirar o Brasil da atual condição econômica e social que nos encontramos e qualquer fala mal colocada desperta desconfiança dos investidores e podemos sofrer com isto. Lula pode estar trilhando o mesmo caminho de Bolsonaro com suas declarações? Acredito que sim. Este é o momento de diagnosticar e planejar as ações, não de ficar assumindo compromissos e prometendo soluções sem dimensionar o que isto custará para os brasileiros comuns.

Acompanhemos a evolução das expectativas econômicas para o Brasil. Em uma semana a expectativa de inflação para este ano subiu, na mediana, 0,1 ponto percentual. Pode parecer pouco, mas hoje a expectativa é que a inflação feche o ano em 5,49%, acima do teto da meta que é de 4,75% e longe do centro que é de 3,25%. E a situação não deverá melhorar. Nada que o governo fizer irá levar a inflação a convergir para o centro da meta neste ano. Daí o presidente vem e fala que quer aumentar a meta de inflação para ficar mais fácil de cumprir. Convenhamos, não precisamos e não podemos ter inflação maior do que já estamos tendo.

O que o governo pode estar querendo provocar é um aumento significativo da inflação para aumentar a base tributária e poder ter um aumento nominal da arrecadação para conseguir cumprir as promessas de campanha sem causar danos graves às contas públicas. Pelo que parece tudo é pensado. Só que com estas estratégias o povo não ganha nada. Por isto a expectativa de inflação para o próximo ano já está saindo do centro da meta.

Financiar o desenvolvimento de outros países latino-americanos pode ser uma alternativa quando o governo não tiver nada para financiar aqui. Somente as economias do Chile e do Haiti é que crescerão menos que o Brasil neste ano. No próximo ano a projeção é de que o Chile cresça mais que o Brasil, o Haiti cresça no mesmo nível e somente a Jamaica cresça menos. Então temos que torcer (e pedir) para o governo falar menos e agir mais.