ROGÉRIO RIBEIRO

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O exterminador de empregos

Da Redação

| Edição de 07 de maio de 2024 | Atualizado em 07 de maio de 2024

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A modernidade nos trouxe avanços inimagináveis em tecnologia e produtividade, mas com ela também surgiram novos desafios. Numa conferência conduzida pelo professor Paulo Eberhardt, foi evidenciado como a sociedade atual vem substituindo trabalhadores por máquinas e robôs, levantando preocupações sobre os impactos dessa transformação para o estado do Paraná. Sua investigação, focada nos impactos regionais da automação, revelou características preocupantes sobre os municípios mais vulneráveis a essa tendência.

A pesquisa identificou quais municípios paranaenses têm maior probabilidade de serem afetados pela substituição de trabalhadores por robôs, destacando as características dessas cidades. Um dos pontos mais preocupantes é a extinção potencial de várias ocupações, especialmente aquelas que requerem rotinas previsíveis, baixa criatividade e pouca interação social. Nos Estados Unidos, por exemplo, estudos prévios mostram que cerca de 47% dos empregos estão em alto risco de automação. No Brasil, estima-se que 3,57 milhões de trabalhadores formais estejam em ocupações com alta probabilidade de automação, enquanto 10,5 milhões têm uma média-alta propensão.

Os empregos mais suscetíveis à automação tendem a ser aqueles que requerem baixo nível de atividade cognitiva, como atividades agrícolas e de construção, frequentemente caracterizados por salários e níveis educacionais baixos. Municípios com uma população rural maior são particularmente vulneráveis, dado que essas atividades são predominantes. Marquinho, Ortigueira e Cerro Azul foram identificados como os mais propensos a serem impactados, dada a predominância de atividades agrícolas e de construção civil nessas localidades.

Em Marquinho, por exemplo, no ano de 2021, 1 em cada 10 empregos estava em ocupações com maior probabilidade de automação, como operadores de máquinas, trabalhadores de movimentação de terra e montadores de estruturas na construção civil. Esses dados ressaltam a necessidade de uma abordagem urgente e específica para a proteção das economias locais frente ao avanço das máquinas.

Os municípios menos urbanizados, especialmente nas áreas rurais, serão os mais afetados. Adicionalmente, estudos internacionais indicam que para cada robô introduzido na linha de produção, 3,3 trabalhadores são substituídos, resultando na redução da renda do trabalho e na concentração de riqueza para os detentores do capital.

Nas cidades, ocupações que envolvem atividades repetitivas e previsíveis, como caixas, operadores de telemarketing e trabalhadores em linhas de produção, correm risco. A automação tem sido implacável com os trabalhadores menos qualificados e com baixa escolaridade. Para esses grupos, a perda do emprego pode se traduzir em longos períodos de desemprego ou transição para funções ainda mais precarizadas.

A sociedade precisa refletir sobre os resultados dessas pesquisas e pressionar seus representantes políticos a debater e agir para mitigar os impactos da automação. Isso inclui implementar políticas públicas que incentivem a requalificação profissional e a educação continuada, além de promover a diversificação econômica e a criação de empregos de qualidade. Assim como no filme “O Exterminador do Futuro”, onde a inteligência artificial ameaça tomar o controle, precisamos assumir o protagonismo e nos adaptar às novas realidades sem renunciar a valores como inclusão e solidariedade. A automação pode abrir novas oportunidades para a humanidade, desde que nos esforcemos para não deixar ninguém para trás.