ROGÉRIO RIBEIRO

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O inimigo que fingimos não ver

Da Redação

| Edição de 28 de outubro de 2025 | Atualizado em 28 de outubro de 2025

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Há uma perigosa acomodação no debate econômico brasileiro. Enquanto os indicadores insistem em mostrar uma inflação resistente, o discurso oficial parece ter se acostumado com o problema, como se a estabilidade de preços fosse um luxo reservado às economias mais desenvolvidas.

A expectativa de inflação para 2025 está em torno de 4,56%, e os preços administrados devem crescer 4,92%. Mesmo a alimentação no domicílio, que havia dado um pequeno respiro nos últimos meses, deve subir 3,43%. E o futuro não promete alívio: para os próximos anos, tanto a inflação geral quanto a dos preços administrados devem permanecer acima de 4%, enquanto a dos alimentos, que pesa mais no bolso das famílias de baixa renda, pode alcançar 5%.

Esses números, que à primeira vista parecem frios, escondem uma realidade quente e incômoda: o custo de vida continuará corroendo o poder de compra da população. O Brasil está preso numa armadilha inflacionária silenciosa, alimentada pela ineficiência do Estado e pela incapacidade de rever seus gastos. O problema não é apenas a inflação em si, mas o que ela revela: um modelo econômico esgotado, no qual o remédio aplicado, os juros altos, já não cura o mal, apenas prolonga o sofrimento.

A política monetária brasileira segue prisioneira do Sistema de Metas de Inflação, que utiliza a taxa básica de juros como principal instrumento de controle. O resultado é conhecido: o consumo e o investimento são desestimulados, o crédito encarece, o setor produtivo retrai e o Estado se endivida ainda mais. Para conter a inflação, eleva-se o custo do dinheiro e aumenta-se o déficit público, retroalimentando o mesmo problema que se pretende resolver.

Esse círculo vicioso já não convence nem os economistas mais conservadores. Os modelos utilizados para estabilizar a economia deixaram de ser eficazes e eficientes. O Estado brasileiro continua gastando muito e gastando mal. A máquina pública, pesada e inchada, consome recursos que poderiam ser destinados a investimentos produtivos. O gasto corrente cresce, o investimento público encolhe e o resultado é um país com um Estado caro e uma sociedade cada vez mais empobrecida.

Enquanto isso, o setor produtivo agoniza. As empresas enfrentam custos financeiros elevados e têm dificuldade para investir ou repor o poder de compra dos salários. O nível de atividade segue baixo, a geração de empregos formais não acompanha o crescimento populacional, e o aperto no orçamento das famílias aumenta a demanda por programas sociais, justamente quando a arrecadação pública diminui.

Esse desequilíbrio é uma bomba-relógio fiscal. Muitos municípios já enfrentam colapsos orçamentários, estados beiram a insolvência, e a União caminha por uma trajetória perigosa de endividamento crescente. Tudo isso impulsionado por uma inflação que o governo federal insiste em tratar como “aceitável”, mas que corrói silenciosamente a base econômica e social do país.

O Brasil precisa de uma inflexão estrutural. A reforma administrativa deixou de ser opção: é urgência. Ou se muda o perfil dos gastos públicos e se busca eficiência, ou continuaremos reféns de um modelo que cobra caro da população e entrega pouco em retorno.

Ficar como está não é alternativa. A estabilidade não é apenas uma meta fiscal, mas uma condição de dignidade. O combate à inflação deve começar pelo exemplo dos governos: gastar melhor, priorizar o essencial, planejar com seriedade e medir resultados. É hora de inverter a lógica da correção tardia e apostar na prevenção. O Brasil precisa agir antes que o preço da omissão se torne impagável.