TIAGO CUNHA

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Ecossistemas ou Egossistemas? O que estamos realmente construindo

Da Redação

| Edição de 13 de outubro de 2025 | Atualizado em 13 de outubro de 2025

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Nos últimos anos, a palavra ecossistema ganhou força nos discursos sobre inovação. Fala-se em ecossistema de startups, de empreendedorismo, de inovação. O termo, emprestado da biologia, carrega a ideia de interdependência: um ambiente vivo, dinâmico, onde cada ator exerce um papel essencial para a manutenção do equilíbrio e da vitalidade coletiva. Mas, na prática, nem sempre o que se vê são ecossistemas. Muitas vezes, o que se forma são egossistemas.

A diferença entre um e outro está menos nas estruturas e mais nas atitudes. Um ecossistema de inovação nasce quando as universidades, empresas, poder público, entidades e a sociedade civil compreendem que o desenvolvimento é um bem comum, e não um troféu individual. Nesse ambiente, o protagonismo é compartilhado, a colaboração substitui a competição e o resultado é medido pela capacidade de transformar a realidade local, e não pela quantidade de logotipos em um banner.

O egossistema, por sua vez, é o oposto disfarçado de parceria. É quando a vaidade ocupa o lugar da visão sistêmica, e a lógica do “meu projeto”, “minha instituição”, “minha marca” enfraquece aquilo que deveria ser coletivo. Nesse cenário, a inovação se torna um palco, e não um processo. As conexões são superficiais, os resultados se fragmentam e o potencial de transformação se perde no ruído das disputas de visibilidade.

Construir um ecossistema verdadeiro exige maturidade institucional e humildade intelectual. Requer entender que a inovação é uma jornada longa e que ninguém a percorre sozinho. Envolve reconhecer a importância dos papéis complementares o gestor público que cria as condições, o empresário que investe, o pesquisador que gera conhecimento, o educador que forma talentos e o cidadão que demanda soluções melhores. Todos conectados por um propósito comum: gerar desenvolvimento sustentável e inteligente.

Naturalmente, nem sempre esse equilíbrio se mantém. Há momentos em que o poder público e as instituições se perdem no excesso de formalidades, disputas de espaço ou vaidades involuntárias. São desvios compreensíveis em processos coletivos, mas que precisam ser percebidos e corrigidos com diálogo e propósito. Afinal, o ecossistema só se fortalece quando cada ator entende que não há avanço individual possível sem o avanço do todo.

E é justamente nesse ponto que reside o verdadeiro valor da inovação: na capacidade de unir forças, de construir pontes e de transformar diferenças em aprendizado. Quando os atores se integram, compartilham conhecimento e caminham na mesma direção, todos crescem. Porque inovar, no fim das contas, é isso fazer juntos o que sozinhos jamais seria possível.