TIAGO CUNHA

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Inovação com identidade: como cidades podem crescer sem perder suas raízes

Da Redação

| Edição de 11 de agosto de 2025 | Atualizado em 11 de agosto de 2025

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Essa semana, ao preparar uma pesquisa teórica sobre modelos de inovação aplicáveis a municípios de médio e pequeno porte, voltei a um livro que sempre provoca novas reflexões: Ensaios sobre o Conceito de Cultura, do sociólogo Zygmunt Bauman. A obra, embora escrita há alguns anos, parece ter sido feita para o nosso tempo, especialmente quando pensamos nos desafios e oportunidades que cidades como Apucarana, e tantas outras no Brasil, enfrentam para se desenvolver de forma sustentável.

Bauman nos lembra que cultura não é um objeto fixo, mas um organismo vivo. É o conjunto de valores, saberes, práticas e modos de vida que dão identidade a um povo. Ela é a “memória coletiva” que nos ancora, mas também a energia que nos impulsiona a mudar. E quando falamos de inovação no contexto municipal, especialmente em cidades de médio e pequeno porte, essa perspectiva é fundamental: inovar sem dialogar com a cultura local é como plantar em solo desconhecido pode até germinar, mas dificilmente cria raízes profundas.

A pesquisa que realizei não aplicou modelos na prática; ela buscou, no campo teórico, referências e experiências que podem inspirar políticas e estratégias aqui. E o que ficou claro é que a cultura da inovação não se constrói apenas com tecnologia ou infraestrutura, mas com um ambiente em que ideias novas se encontrem com tradições e saberes já consolidados.

Pensemos, por exemplo, na vocação empreendedora de muitas cidades do interior. Não adianta importar soluções prontas de grandes centros e esperar que funcionem do mesmo jeito. É preciso adaptar, respeitar a dinâmica local, compreender o ritmo da comunidade e envolver quem faz parte dela no processo. Uma cidade inova de verdade quando transforma seus próprios talentos e recursos em novas oportunidades e não quando tenta copiar modelos sem tradução para sua realidade.

Bauman chamaria isso de equilíbrio em meio à “modernidade líquida”: manter a capacidade de mudar e se reinventar sem perder o senso de pertencimento. Isso vale tanto para uma empresa quanto para um município inteiro.

Por isso, a cultura da inovação em cidades de médio e pequeno porte precisa ser construída como uma ponte: de um lado, as raízes da identidade local; do outro, a abertura para o novo. É essa ponte que permite crescer com segurança, inovar com propósito e, ao mesmo tempo, preservar aquilo que torna uma cidade única.

Afinal, no fim das contas, não existe inovação verdadeira que não dialogue com quem somos. E, para os municípios, isso significa que o futuro se constrói com tecnologia e estratégia, sim, mas também com história, afeto e participação coletiva.