O Senai Park, um parque de inovação e tecnologia, será inaugurado em Ipojuca, na região metropolitana do Recife, nesta segunda-feira (20). Este novo centro se propõe a integrar produtividade industrial com preocupações ambientais, destacando-se pela transição energética.
Funcionando como um "berçário" tecnológico, o Senai Park oferece plantas-piloto onde indústrias podem simular processos, realizar testes e avaliar o desempenho de produtos e técnicas.
O parque já inicia suas atividades com dois projetos de desenvolvimento contratados por mais de dez empresas, totalizando um investimento de R$ 100 milhões.
Em um ano marcado pela 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que ocorrerá em Belém, as iniciativas do Senai Park estão alinhadas com a descarbonização, promovendo a produção e consumo de energia limpa, sem emissão de gases de efeito estufa.
Hidrogênio Verde
Um dos projetos em destaque é a produção e pesquisa de hidrogênio verde, utilizando um eletrolisador instalado no Senai Park.
O hidrogênio, um gás que pode ser usado como combustível sem emitir CO², é comum na natureza, mas raramente encontrado isoladamente. A eletrólise, que extrai hidrogênio da água, é um método desenvolvido para sua obtenção. Quando a energia utilizada é limpa, como a hidrelétrica, o hidrogênio é classificado como verde.
O diretor de Inovação e Tecnologia do Senai-PE, Oziel Alves, explica que o centro trabalhará tanto na produção de combustível para veículos quanto no desenvolvimento de formas de armazenamento do hidrogênio em células combustíveis. O eletrolisador tem capacidade para produzir 30 quilos de hidrogênio por dia, suficiente para abastecer quatro veículos em um percurso de ida e volta entre o Porto de Suape e Recife.
O projeto conta com a participação de empresas como Neuman & Esser, Siemens, White Martins, Hytron, Compesa e CTG Brasil.
Competição e Sustentabilidade
Oziel Alves destaca que, além de promover a transição energética, o desenvolvimento de energia limpa, como o hidrogênio verde, pode trazer benefícios financeiros para as empresas. Mercados como o europeu impõem taxas adicionais para empresas que emitem muitos poluentes.
“Produtos intensivos de energia, como cimento e ácido, que entram no mercado europeu, precisam ter certificação de energia limpa.”
Armazenamento de Energia
Outro projeto em pesquisa no Senai Park é o desenvolvimento de sistemas de armazenamento de energia, semelhantes a grandes baterias. Isso pode ser uma solução para o problema do curtailment, que ocorre quando há excesso de geração de energia limpa, como eólica e solar, e o sistema elétrico nacional precisa descartar essa energia.
“Poderíamos armazenar essa energia e depois produzir hidrogênio com a energia residual não utilizada na rede”, projeta Alves.
Baterias de Lítio
O Senai Park também está envolvido na produção de baterias de lítio de baixa tensão, essenciais para a frota crescente de carros elétricos. O projeto, liderado pelo Grupo Moura, visa a "tropicalização" da tecnologia, permitindo a produção nacional dessas baterias.
Com um investimento inicial de R$ 20 milhões, a linha de produção robotizada deverá estar pronta no primeiro trimestre de 2026, com capacidade para produzir mil baterias de 12v e 48v por mês.
“Este é um projeto de tecnologia e inovação que conecta pesquisa e desenvolvimento tecnológico às demandas de mercado”, define a diretora regional do Senai, Camila Barreto.
O projeto é apoiado pelo Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, e conta com a parceria de empresas do setor automotivo, como Stellantis, Volkswagen, Iochpe Maxion e Horse.
Oziel Alves enfatiza que, embora concorrentes, as empresas compartilham informações sobre inovações no Senai Park, preservando segredos industriais apenas para implementações específicas.
“O conhecimento geral desenvolvido aqui é compartilhado entre as empresas, enquanto o específico de cada uma é preservado para exploração comercial”, detalha.
Spartacus Pedrosa, diretor de operações do Grupo Moura, destaca a importância das baterias de lítio para a eficiência energética e a redução da pegada de carbono.
O projeto é pioneiro na produção de baterias, mas ainda depende de células de lítio importadas da China. O Brasil ainda explora pouco esse mineral estratégico em território nacional, embora outras unidades do Senai, como a do Paraná, estejam estudando a mineração do elemento.
O Papel da Indústria
Bruno Veloso, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), acredita que tecnologias como o hidrogênio verde e as baterias de lítio são fundamentais para a transição energética nas indústrias.
“A descarbonização da indústria é essencial, e isso passa pela pesquisa de novas fontes energéticas”, completa Veloso.
*Repórter e fotógrafo da Agência Brasil viajaram a convite do Senai-PE
Com informações da Agência Brasil