Um projeto inovador do Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas (INPO) está prestes a transformar o cenário das energias renováveis no Brasil. A proposta é a criação do Centro Temático de Energia Renovável no Oceano – Energia Azul, que visa desenvolver quatro tecnologias para a produção de energia renovável em alto-mar: conversão de energia das ondas, correntes de maré, gradiente térmico do oceano (OTEC) e produção de hidrogênio verde.
Recentemente, o INPO garantiu um financiamento de aproximadamente R$ 15 milhões ao vencer um edital da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o que viabiliza a implementação do projeto.
Redução de Emissões
As soluções propostas pelo INPO têm potencial para serem aplicadas em diversos setores industriais, contribuindo significativamente para a redução de emissões em áreas de difícil abatimento, como plataformas de óleo e gás, fertilizantes, siderurgia, transporte e cimento. As unidades flutuantes, que atualmente utilizam turbinas a gás natural, poderão substituir parte dessa geração por fontes limpas produzidas no oceano.
O diretor-geral do INPO, Segen Estefen, destaca a importância estratégica do projeto. "A disponibilidade de recursos renováveis no oceano e a experiência brasileira em atividades offshore são diferenciais importantes. Podemos transformar o oceano em um aliado estratégico na transição energética, produzindo eletricidade, hidrogênio e água dessalinizada de forma sustentável", afirma.
Bolsas para Estudantes
Do total investido, R$ 4,3 milhões serão destinados a bolsas de pesquisa para estudantes de mestrado, doutorado e pós-doutorado, em parceria com quatro universidades: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Fundação Getúlio Vargas (FGV). Esta iniciativa visa fortalecer a formação de especialistas e expandir o conhecimento em energias oceânicas no país.
Uma das frentes do projeto inclui a simulação física da produção de hidrogênio a partir de energia eólica offshore, utilizando água do mar dessalinizada para eletrólise, o que resolve o problema da intermitência da geração eólica e permite o armazenamento de energia em forma de hidrogênio, garantindo estabilidade ao sistema elétrico.
Atualmente, cerca de 250 gigawatts em projetos de eólica offshore estão em processo de licenciamento no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Se apenas 20% forem implantados, a matriz elétrica brasileira pode ganhar 50 gigawatts adicionais, representando quase um quarto da capacidade nacional atual.
A turbina para aproveitamento de correntes de maré será projetada para operar tanto no oceano quanto em rios de fluxo contínuo, possibilitando levar energia limpa e contínua a comunidades isoladas.
Conversor de Águas
O projeto também prevê o desenvolvimento de quatro equipamentos: um conversor de ondas, um sistema OTEC baseado em ciclo de Rankine com amônia, um módulo de produção de hidrogênio offshore e uma turbina de correntes de maré. Cada tecnologia será projetada, construída e testada em ambiente laboratorial e operacional, resultando em projetos-piloto prontos para instalação no mar.
Estefen enfatiza que o Centro de Energia Azul será crucial para elevar o nível de maturidade tecnológica das soluções. "As energias renováveis offshore estão atualmente em fase pré-comercial, o que exige avanços nos níveis de maturidade tecnológica (TRL). O Centro de Energia atuará justamente nesse estágio intermediário, viabilizando a prova de conceito e o detalhamento de projetos para aplicação em escala real. Ao final do projeto, para cada tecnologia está contemplada a entrega de respectivo projeto-piloto para instalação no mar, etapa que prepara o caminho para aplicações comerciais em larga escala", conclui o diretor-geral.
Com informações da Agência Brasil