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Abin: segurança nas eleições e ataques com IA são desafios para 2026

(via Agência Brasil)

| Edição de 02 de dezembro de 2025 | Atualizado em 02 de dezembro de 2025

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Nem tudo é sigiloso quando se trata de lidar com informações que o Estado Brasileiro considera secretas. Em consonância com os princípios democráticos do país, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) divulgou recentemente um documento que destaca os principais desafios para o próximo ano, com o objetivo de antecipar ameaças à segurança do Estado e da sociedade.

A segurança do processo eleitoral e os ataques cibernéticos utilizando inteligência artificial (IA) estão entre os desafios mencionados. Em 2026, os brasileiros participarão das eleições gerais para Presidente da República, governadores, senadores e deputados.

A publicação intitulada Desafios de Inteligência Edição 2026 visa ajudar a Abin a desempenhar seu papel institucional de forma transparente, assessorando a presidência da República na tomada de decisões e na formulação de políticas, além de proteger conhecimentos sensíveis para o Estado brasileiro.

Colaboração e Análise

O levantamento contou com a colaboração de especialistas de universidades, instituições de pesquisa e agências governamentais, que contribuíram com informações sobre clima, tecnologia, demografia, saúde e migrações, além de análises das situações internacional e regional.

O material detalha cinco desafios principais para lidar com riscos diretos e indiretos à segurança do país:

  • Segurança no processo eleitoral;
  • Transição para a criptografia pós-quântica;
  • Ataques cibernéticos autônomos com agentes de inteligência artificial;
  • Reconfiguração das cadeias de suprimento global; e
  • Dependência tecnológica, atores não estatais e interferência externa.

Riscos e Dinâmicas Internacionais

O relatório que projetou os riscos para 2025 destacou desafios relacionados ao agravamento da crise climática, alterações dos padrões populacionais, aceleração da corrida tecnológica e intensificação da competição entre potências mundiais.

“Ao longo do ano, vimos essas dinâmicas internacionais ganharem mais proeminência”, relatou o diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, durante a apresentação do documento.

Geopolítica e Inteligência Artificial

Corrêa destacou, na edição 2026, o uso de instrumentos econômicos como fatores de pressão política e a escalada de ameaças militares a países latino-americanos, inclusive fronteiriços com o Brasil. Além disso, mencionou a competição acirrada pelo desenvolvimento e uso da inteligência artificial (IA).

Contexto Global

De acordo com a Abin, o cenário atual é de multipolaridade desequilibrada e desinstitucionalizada, com a competição estratégica entre EUA e China como fator central. A agência observa que o mundo atravessa um “período de profunda reconfiguração”, impulsionado por confluências entre clima, demografia e tecnologia, em um cenário de “desestruturação da ordem internacional”.

Desafios Eleitorais

Na avaliação da Abin, o processo eleitoral de 2026 enfrenta ameaças "complexas e multifacetadas", com tentativas de deslegitimação das instituições democráticas, como as que culminaram na invasão às sedes dos Três Poderes em Brasília, em janeiro de 2023, em um cenário de manipulação de massas e disseminação de desinformação em larga escala.

“Adicionalmente, a integridade do pleito é desafiada pela crescente influência do crime organizado em territórios sob sua influência e pelo risco de interferência externa voltada a desestabilizar o processo eleitoral e favorecer interesses geopolíticos estrangeiros”, diz o documento.

Era Digital e Soberania

O relatório sugere que o Estado deve estar atento às transições nos domínios do clima, demografia e tecnologia, em um contexto de alta densidade de interações e interdependências – especialmente em energia, informação e transportes. Destaca ainda os “impactos sem precedentes” da Era Digital.

Entre os desafios tecnológicos, a garantia de uma soberania digital é considerada um “desafio nevrálgico”, com dificuldades como a dependência estrutural de hardwares estrangeiros e a concentração de poder em big techs, que monopolizam dados e desafiam estruturas estatais, ameaçando a autonomia decisória nacional.

A Abin, no entanto, destaca os avanços do Brasil em cibersegurança, com o desenvolvimento de tecnologias de ponta, como o aplicativo de mensagens governamentais que utiliza criptografia pós-quântica.

Computação Quântica e Criptografia

A rápida evolução da IA pode transformar essa ferramenta em um “agente ofensivo autônomo, capaz de planejar, executar e adaptar ataques”, o que pode elevar o risco de incidentes cibernéticos resultarem em conflitos militares.

A Abin conta com especialistas em criptografia, considerada pilar da soberania digital e da segurança governamental, especialmente em comunicações sigilosas e transações digitais. A agência antevê riscos com o advento da computação quântica, que pode tornar obsoleta a atual criptografia de chaves públicas em 5 a 15 anos.

Dependência Tecnológica

A Abin considera urgente a transição para algoritmos pós-quânticos que não dependam de tecnologias estrangeiras. Enxerga no domínio digital a “arena central” da competição geopolítica, com as big techs atuando como “vetores de influência de seus Estados-sede”.

“Nesse contexto, a dependência de provedores externos em infraestruturas críticas (nuvem, dados, identidade digital) é uma vulnerabilidade estratégica severa para o Brasil”, destaca a agência, alertando que essa dependência pode levar à interferência externa.

Como exemplo, a Abin cita a guerra cognitiva, geralmente catalisada por desinformação algorítmica, e o risco de espionagem para acessar dados sensíveis.

Reconfiguração das Cadeias de Suprimentos

Entre os desafios para 2026 está a reconfiguração das cadeias globais de suprimento, impulsionada pela ascensão chinesa, a guerra econômica com os EUA e as vulnerabilidades expostas durante a pandemia da covid-19.

“A conjuntura atual é marcada por uma desglobalização deliberada, que prevê tarifas agressivas e a desvalorização do dólar, acelerando a queda de sua participação nas transações globais.”

O Brasil se vê em uma posição de dependência dupla: uma relacionada à China, que garante superavit comercial através de commodities, e outra ao capital e tecnologias ocidentais, especialmente dos EUA.

Impactos Climáticos

As mudanças no clima e nas estruturas populacional e tecnológica geram riscos e oportunidades. A Abin destaca que o aquecimento global está em ritmo acelerado e que 2024 foi o ano mais quente já registrado, ultrapassando em 1,5°C a temperatura média pré-industrial.

Catástrofes têm aumentado no Brasil, com eventos como a seca amazônica e inundações no Rio Grande do Sul em 2024, resultando em perdas anuais de R$ 13 bilhões.

Energia e Segurança Alimentar

O desmatamento da Amazônia e a redução dos “rios voadores” deixam a situação energética vulnerável, com perdas anuais estimadas em quase 3,8 mil gigawatts-hora (Gwh), correspondendo a R$ 1,1 bilhão.

Os riscos à segurança alimentar também são destacados, com estimativas de que 46% das pragas agrícolas piorem até 2100. Outro desafio é a elevação do nível do mar, ameaçando infraestruturas críticas e a população costeira.

Transição Demográfica

A Abin cita o aumento da longevidade e a queda da taxa de fecundidade como fatores que reconfigurarão o futuro. Alerta para a saída de brasileiros qualificados para o exterior, em um contexto de competição por talentos.

O Brasil como destino migratório impõe desafios à prestação de serviços essenciais e à segurança nas fronteiras, além de riscos do crime transnacional.

O entorno estratégico sul-americano está cada vez mais permeável às disputas geopolíticas globais, com potências disputando o controle de recursos estratégicos como lítio, terras raras, petróleo e recursos naturais da Bacia Amazônica.

“A China consolidou-se como principal parceiro comercial, enquanto os EUA exercem crescentes pressões por alinhamento, incluindo ameaças militares”, conclui o documento.



Com informações da Agência Brasil