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Estudo prevê substituição de roedor em testes antiveneno de serpentes

(via Agência Brasil)

| Edição de 22 de outubro de 2025 | Atualizado em 22 de outubro de 2025

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A bióloga Renata Norbert, do Instituto Nacional de Controle da Qualidade em Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz (INCQS/Fiocruz), foi premiada pela Sociedade Europeia para Alternativa de Testes em Animais. Sua pesquisa sobre a substituição de camundongos por ensaios in vitro para controle da qualidade de soros contra o veneno de cobras do gênero Bothrops recebeu destaque no 13º Congresso Mundial de Alternativas ao Uso de Animais.

O estudo também recebeu menção honrosa do Centro Nacional para a Substituição, Refinamento e Redução de Animais em Pesquisa, uma organização científica britânica.

Bothrops é um gênero de serpentes da família Viperidae, conhecidas popularmente como jararacas, cotiaras e urutus. No Brasil, as picadas dessas serpentes são responsáveis pelo maior número de acidentes com cobras, com 12 mil casos registrados este ano pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS).

Em entrevista à Agência Brasil, Renata Norbert explicou que o estudo vem sendo desenvolvido há anos, desde que o INCQS começou a buscar alternativas para substituir os camundongos nos testes, visando não apenas evitar o sofrimento dos animais, mas também obter resultados mais rápidos e econômicos.

Avanços na Pesquisa

Renata destacou que a cadeia produtiva de antiveneno é complexa e envolve várias etapas, todas com controle interno para garantir a qualidade. Após a produção, os lotes são testados no INCQS, onde tradicionalmente se utiliza um grande número de camundongos para liberar o produto para o Programa Nacional de Imunização (PNI).

“Conseguimos avançar na fase de pré-validação, algo inédito para antivenenos no mundo. Esse processo já existe para cosméticos e outros produtos, mas para antivenenos, é a primeira vez”, afirmou Renata.

O estudo está agora na fase final, que envolve a reprodutibilidade em outros laboratórios para confirmar a robustez do método. "Os outros laboratórios vão testar a metodologia que pré-validamos para verificar se conseguem obter os mesmos resultados. Esse foi o maior diferencial do nosso trabalho: avançar um passo além na validação", explicou.

Metodologia Inovadora

A metodologia proposta substitui camundongos por células Vero, cultivadas em laboratório. Essas células são fixadas em placas e recebem uma mistura de soro com veneno. Se as células permanecem intactas, o soro é aprovado; caso contrário, é reprovado.

O objetivo é submeter os resultados à farmacopeia brasileira para aplicação prática. "Queremos sair da pesquisa e aplicá-la na prática", diz a especialista. Kits de ensaios serão montados para que laboratórios possam realizar a metodologia e comparar resultados. "Com os dados, fazemos a estatística e verificamos a reprodutibilidade", destacou Renata. Os resultados serão publicados e submetidos aos órgãos reguladores, com a expectativa de expandir o estudo internacionalmente.

Impacto e Futuro

Renata Norbert planeja reunir-se com produtores em dezembro para discutir a multiplicação do conhecimento e a expansão do projeto para o exterior. A premiação internacional foi um incentivo para continuar a pesquisa, que pode ser implementada a partir de março de 2026.

Imagem ilustrativa da imagem Estudo prevê substituição de roedor em testes antiveneno de serpentes
Testes antiveneno causam muito sofrimento aos animais usados em grande quantidade. Eles acabam sacrificados - Foto - Vital Brazil/Direitos reservados

O método desenvolvido é mais rápido e econômico, reduzindo custos em até 69%. Atualmente, muitos roedores são criados no Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos (ICTB/Fiocruz) e utilizados em pesquisas após atingirem a fase adulta.

Renata explicou que os testes tradicionais causam sofrimento aos animais, que são sacrificados após o procedimento. "É um teste longo e doloroso, sem anestesia", disse, justificando a busca por substituição por ensaios in vitro.

O INCQS já utiliza a metodologia de células para liberação de vacinas, mas o estudo de Renata é pioneiro para venenos. Ela pretende expandir a pesquisa para outros tipos de serpentes Bothrops, como a Bothrops Asper, encontrada na América Central e no norte da América do Sul.

Desafios do Envenenamento

As serpentes Bothrops são responsáveis por cerca de 90% dos casos de envenenamento por cobras no Brasil. Além de potencialmente fatais, suas picadas podem causar hemorragias, necroses ou amputações.

Apesar disso, o envenenamento por Bothrops não atrai interesse comercial da indústria farmacêutica privada, sendo classificado pela Organização Mundial de Saúde como doença tropical negligenciada. O antiveneno e os testes de qualidade são realizados por unidades do Sistema Único de Saúde (SUS), como o INCQS/Fiocruz, Instituto Vital Brazil, Instituto Butantan e a Fundação Ezequiel Dias.



Com informações da Agência Brasil