O chamado Hacker da Vaza Jato, Walter Delgatti, afirma ter se reunido com servidores do Ministério da Defesa pouco antes das eleições de 2022. A informação foi confirmada à
Agência Brasil
, nesta quarta-feira (16), pelo advogado de Delgatti, Ariovaldo Moreira.
Ao chegar à sede da Polícia Federal (PF), em Brasília (DF), para acompanhar o depoimento de seu cliente, Moreira disse saber com quem Delgatti esteve reunido no ministério, mas não revelou nomes, datas, nem outros detalhes.
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Há duas semanas, quando
preventivamente, suspeito de invadir os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inserir falsos documentos e alvarás de soltura no Banco Nacional de Mandados de Prisão, Moreira revelou à GloboNews que o hacker esteve no Ministério da Defesa debatendo a segurança das urnas eletrônicas nas eleições de 2022.
Hoje, ao UOL Entrevista, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, confirmou que Delgatti esteve no ministério. Monteiro revelou que pediu à PF que apure com quem o hacker se reuniu. De acordo com o ministro, tão logo sejam identificados, os servidores da pasta serão temporariamente afastados de sua função até que o teor das conversas seja apurado.
“Eu quero os nomes das pessoas com quem o hacker esteve [no ministério]. Porque eu tomo as providências, afasto as pessoas com as quais ele esteve, as pessoas a quem ele orientou”, declarou Monteiro, alegando não poder se basear apenas no registro de entrada e saída de visitantes da pasta. “Ele esteve lá. O que eu não sei é com quem ele esteve e o que conversou. E para tomar as providências [cabíveis] eu preciso saber [isso]. Ele pode ter dado o nome de fulano [na recepção do ministério] e não ter estado com ele. As pessoas estão lá. Só preciso que a PF me diga quem são. E então eu vou afastar para que a PF depure se a conversa foi comprometedora ou não”, acrescentou o ministro.
Consultada pela reportagem, a PF se limitou a responder que não se manifesta sobre investigações em andamento.
Operações
Delgatti está preso em caráter preventivo desde o último dia 2. Ele foi detido com a autorização do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da Operação 3FA. Em um primeiro depoimento, o hacker admitiu que, em janeiro deste ano, invadiu os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inseriu falsos documentos e alvarás de soltura no Banco Nacional de Mandados de Prisão. Entre os documentos falsos estava um mandado de prisão contra o ministro do STF Alexandre de Moraes.
O hacker também já disse ter agido a pedido da deputada Carla Zambelli, com o intuito de desacreditar o Poder Judiciário. A deputada, por sua vez, nega ter pedido ou pago o hacker para que fizesse isso.
No mesmo dia em que prenderam Delgatti, policiais federais estiveram na casa e no gabinete da parlamentar, cumprindo mandados judiciais de busca e apreensão de documentos que pudessem contribuir para as investigações que deram origem à Operação 3FA. Na ocasião, Zambelli convocou a imprensa para esclarecer sua relação com Delgatti. A deputada admitiu ter pago R$ 3 mil para que o hacker fizesse melhorias no site e redes sociais dela e confirmou que apresentou o hacker ao presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, e ao ex-presidente da República Jair Bolsonaro. Segundo Zambelli, o hacker queria oferecer os serviços dele ao PL, participando de uma eventual auditoria nas urnas eleitorais eletrônicas. Porém, Zambelli disse que o negócio não foi fechado.
Esta é terceira vez que o hacker é preso preventivamente desde julho de 2019. A primeira detenção ocorreu no âmbito da Operação Spoofing, que apura a invasão dos telefones celulares do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública e hoje senador, Sergio Moro (União Brasil -PR), e de outras autoridades.
Libertado em setembro de 2020, mediante a obrigação de cumprir várias medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de manter contato com outros réus da Operação Spoofing, Delgatti voltou a ser preso em junho deste ano por descumprir as medidas judiciais. O hacker passou cerca de um mês preso até ser solto mais uma vez, com a obrigação de voltar a usar tornozeleira eletrônica e cumprir novas medidas cautelares. Ele estava em liberdade até que, no início deste mês, diante das novas provas da participação de Delgatti na invasão dos sistemas do Poder Judiciário, a PF pediu sua prisão.
O apelido Hacker da Vaza Jato se deve à divulgação das informações extraídas ilegalmente dos aparelhos telefônicos de autoridades, como a troca de mensagens entre Moro e o ex-procurador da República e então coordenador da força-tarefa Lava Jato, o atual deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR). Ao se tornarem públicas, as informações deram origem à chamada Operação Vaza Jato, expondo os bastidores da Operação Lava Jato e reforçando os argumentos dos críticos que acusavam o Poder Judiciário de vazar informações sigilosas, de forma seletiva, com objetivos políticos, além de violar o devido processo legal e o princípio da imparcialidade e abusar das prisões preventivas como forma de forçar os investigados a fazerem acordos de delação premiada.