O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve presente no início dos testes de energização da linha de transmissão que conecta Manaus (AM) a Boa Vista (RR). Este evento marca um passo importante para a integração de Roraima ao Sistema Interligado Nacional (SIN), sendo o último estado brasileiro a sair do isolamento energético.
Com a interligação, espera-se uma melhoria significativa na qualidade e segurança do fornecimento de energia para a população local, reduzindo as interrupções.
Durante a cerimônia realizada na sede do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em Brasília, Lula destacou que Roraima agora possui condições favoráveis para alavancar seu desenvolvimento econômico. "Estamos devolvendo a Boa Vista a cidadania que merece. Agora, os empresários que querem investir têm uma oportunidade única de comércio exterior com países como Suriname, Guiana, Trinidad e Tobago e o Caribe", afirmou o presidente, ressaltando que o estado poderá triplicar sua capacidade energética atual.
"Roraima tem essa possibilidade de ter um comércio forte com o Caribe, não apenas na venda de produtos de alimentação, mas também de produtos industrializados [...]. Significa que o empresário que quiser fazer uma fábrica em Roraima para produzir coisas e exportar para o Caribe ou exportar mesmo para o centro-sul do país, estão dadas as condições", acrescentou.
Desde 2001, Roraima era abastecida pela energia elétrica da Venezuela, através de uma linha inaugurada pelos então presidentes Hugo Chávez e Fernando Henrique Cardoso. No entanto, em março de 2019, o fornecimento foi interrompido, obrigando o estado a depender de usinas termelétricas a gás e óleo diesel, abastecidas por cerca de 120 caminhões-tanque diariamente.
A conclusão das obras de energização promete reduzir o consumo de combustíveis fósseis na região, gerando uma economia de mais de R$ 600 milhões anuais. Este valor é atualmente subsidiado pela Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), um encargo pago pelos consumidores através da tarifa de energia elétrica.
Além disso, a nova linha de transmissão contribuirá para a redução de emissões de gases de efeito estufa em mais de 1 milhão de toneladas de CO2 por ano, permitindo o desligamento das usinas termelétricas locais.
O projeto inclui 724 quilômetros de linhas de transmissão e três subestações: Lechuga, no Amazonas, e Equador e Boa Vista, em Roraima, com um investimento total de R$ 2,6 bilhões.
Integração Energética na América do Sul
No evento, Lula defendeu a capacidade do Brasil em resolver seus desafios internos e destacou a importância de uma integração eletroenergética em toda a América do Sul. "O que a gente está demonstrando aqui é que o Brasil não deve nada a ninguém em se tratando de competência, resiliência e capacidade", afirmou.
Ele sugeriu que o sistema interligado poderia servir de modelo global. "Quando os presidentes da América do Sul perceberem a importância de um sistema como esse, poderemos interligar todo o potencial hídrico da região, tornando-nos uma potência maior e eliminando problemas de falta de energia", disse Lula.
"Eu acho que vai levar um tempo ainda, mas eu acho que os governantes do mundo terão que compreender que quanto mais a gente estiver compartilhando as coisas bem-sucedidas, melhor será para o povo da nossa região."
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, informou que projetos de interligação com outros países sul-americanos já estão em andamento, incluindo a Hidrelétrica de Guri, na Venezuela. Ele explicou que a interligação Manaus-Boa Vista permitirá também o fluxo de energia no sentido contrário, da Venezuela e futuras usinas hidrelétricas de Roraima para o SIN.
Silveira destacou que a nova linha tem capacidade para transmitir 1 gigawatt. "Nós já somos interligados ao Paraguai através da maior usina de integração da América Latina, que é Itaipu Nacional. Somos interligados à Argentina e ao Uruguai", afirmou.
"E [a linha Manaus-Boa Vista] pode trazer de Guri os outros 750 megawatts que falta para o Brasil, porque ela está levando a energia do Brasil para Roraima, mas depois vai trazer da Venezuela e, no futuro, com o arco norte vai trazer também da Guiana", explicou.
"Então, hoje ela vai ser utilizada só como 250 megawatts, mas ela pode trazer para o resto do Brasil 750 megawatts de uma energia muito mais barata do que o consumidor paga hoje que é energia de [usinas] térmicas a óleo", completou Silveira.
A linha de transmissão Manaus-Boa Vista foi licitada em 2011 e deveria estar em operação desde 2015. O projeto enfrentou problemas no licenciamento ambiental, pois passa pela Terra Indígena Waimiri-Atroari, e por questionamentos sobre o valor do contrato.
A obra iniciada em 2021 é de responsabilidade da concessionária Transnorte Energia, formada pela estatal Eletronorte e a empresa Alupar, que ganhou a concessão do linhão.
Com informações da Agência Brasil