A comunidade de Paraisópolis, localizada na zona sul de São Paulo, enfrenta uma realidade marcada pela violência policial. "Nos últimos dois anos, isso se tornou algo comum. Já nem nos assusta mais", relata Janilton Jesus Brandão de Oliveira, conhecido como China.
Em entrevista à Agência Brasil, o vice-presidente da União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis expressou sua indignação com mais uma operação da Polícia Militar que resultou em duas mortes e um policial ferido.
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"Não podemos mais chamar isso de operação policial, já que se tornou rotina", afirmou o vice-presidente. "Eles estão executando e matando aleatoriamente. É sempre a palavra do Estado contra a da população ou de quem perdeu um ente querido. O 16º Batalhão, responsável pela área, tem um histórico de execuções", completou.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, a operação foi motivada por uma denúncia de homens armados em um ponto de venda de drogas. Ao chegarem, os policiais avistaram quatro homens com mochilas, que fugiram e se refugiaram em uma casa. Três foram presos, enquanto um foi morto.
Hoje, a Polícia Militar confirmou que as câmeras corporais mostraram ilegalidade na ação, revelando que Igor Oliveira de Moraes Santos, de 24 anos, estava rendido quando foi morto. A corporação também desmentiu a informação inicial de que a casa era uma "casa bomba".
O coronel Emerson Massera, porta-voz da PM, informou que dois policiais foram presos por homicídio doloso.
"As câmeras mostraram que os policiais atiraram em Igor já rendido. Por isso, foram presos em flagrante", explicou Massera. "Não havia justificativa para o disparo naquele momento, resultando na prisão dos policiais por homicídio doloso", acrescentou.
Para o vice-presidente da associação, a ação apenas evidenciou a mentira da polícia durante a operação.
"Mais uma vida foi tirada. Mais uma mãe enterrando seu filho", lamentou.
"Os policiais alegaram à imprensa que haviam estourado uma casa bomba, com drogas, e que o suspeito revidou, resultando em sua morte. Sabíamos que não era verdade: os rapazes fugiram por terem antecedentes criminais, mas se renderam na casa. A polícia escolheu um deles e o executou. Admitiram isso hoje devido à repercussão, caso contrário seria mais uma disputa de narrativas", disse China.
"Ontem foi a gota d'água. Mais uma mentira, policiais debochando, rindo, comemorando. Vamos ver se comemoram agora presos", concluiu.
Após a morte de Igor, moradores protestaram, resultando em mais uma morte.
Segundo a PM, Bruno Leite morreu após "intensa troca de tiros". Um policial foi ferido e uma pessoa presa por incendiar um carro.
"Um sargento da Rota foi baleado no ombro, com a munição alojada na clavícula. Ele está internado, fora de perigo, mas pode precisar de cirurgia", informou Massera.
"Bruno Leite, com passagens por tráfico e roubo, morreu em confronto com a Rota", acrescentou.
Após mais um episódio violento, a União de Moradores planeja reunião com entidades de direitos humanos para discutir a violência policial.
"O Estado precisa legalizar a polícia. Ninguém diz que a polícia não deve agir, mas deve cumprir a lei. A lei não autoriza executar um suspeito rendido ou plantar drogas em casas de trabalhadores", afirmou China.
Cancelamento de ação de direitos humanos
Devido à violência recente, uma ação de direitos humanos programada para sábado (12) em Paraisópolis foi cancelada. A atividade reuniria órgãos como Receita Federal, Ministério da Saúde, Tribunal Regional Eleitoral e INSS para emissão de documentos e vacinação dos moradores.
"A Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, junto à União dos Moradores de Paraisópolis e Legado Paraisópolis, informa que, por motivos de força maior, a atividade do programa Direitos em Movimento – Ouvidoria Itinerante, prevista para 12 e 13 de julho, foi cancelada devido ao agravamento da segurança após a atuação da PM, resultando em mortes e prisões", diz a nota sobre o cancelamento.
Com informações da Agência Brasil