A cada 10 bebês nascidos na região, pelo menos um é filho de uma adolescente. O levantamento da 16ª Regional de Saúde (RS) de Apucarana, com base em dados do TabNet da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), mostra que 259 garotas com idades entre 14 a 19 anos se tornaram mães entre janeiro a agosto deste ano. O número corresponde a quase 9% das mais de 2,8 mil mulheres que deram à luz nos 17 municípios atendidos pela regional.
Embora o índice de gravidez na adolescência tenha apresentado uma leve redução em comparação com o ano passado (veja no infográfico), a quantidade de meninas que se tornaram mães aos 14 anos aumentou 175% neste ano, em números absolutos, passando de 4 para 11. Apucarana concentra a maior parte dos casos de gravidez na adolescência, com 78 registros, sendo 4 na faixa dos 14 anos e 74 entre 15 a 19 anos. No geral, o número de mães adolescentes corresponde a 8,5% no município.
De acordo com a coordenadora da Casa da Gestante de Apucarana, Maria Aparecida das Neves, o município atualmente realiza o acompanhamento pré-natal de 747 gestantes na rede pública. Desse total, 93 são adolescentes, o que representa 12,4% do total de mulheres grávidas.
“Atendemos uma adolescente de 13 anos e quatro de 14 anos que estão fazendo acompanhamento com a gente aqui na Casa da Gestante e também nas Unidades Básicas de Saúde. O acompanhamento oferecido é multidisciplinar, abrangendo exames, consultas, orientações, e até atendimentos especializados em áreas como psicologia, nutrição e endocrinologia”, explica.
A enfermeira obstétrica esclarece que a gravidez de adolescentes com menos de 14 anos é automaticamente considerada de alto risco e o aumento de casos em idades cada vez mais precoces causa grande preocupação. “Essas meninas são muito jovens, quase crianças. É um problema que nos preocupa muito”, afirma. A enfermeira ressalta que, além dos riscos inerentes à gestação, a vida sexual iniciada tão cedo expõe as adolescentes a outros perigos como Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), causadas pela falta de proteção nas relações. Há ainda a preocupação com o uso de álcool, tabaco ou outras drogas, que podem complicar a gestação e prejudicar o desenvolvimento do feto, resultando, por exemplo, em bebês com baixo peso ao nascer.
REGIÃO
Quase todos os municípios atendidos pela 16ª Regional de Saúde (RS) registraram casos de gravidez na adolescência. Além de Apucarana, aparecem Arapongas (68), Faxinal (20), Mauá da Serra (16), Sabáudia (12), São Pedro do Ivaí (8), Borrazópolis (7), Califórnia (9), Cambira (7), Marumbi (7), Rio Bom (2), Marilândia do Sul (9), Kaloré (3), Grandes Rios, Bom Sucesso (7), Jandaia do Sul (7). Apenas Novo Itacolomi não registrou nascimento de bebê filho de mãe adolescente.
Gravidez em idade precoce traz maiores riscos de complicações
A chefe da Seção de Atenção Primária em Saúde da 16ª RS, Sabrina Kuniczki, explica que o Ministério da Saúde define a gravidez na adolescência como aquela que ocorre entre os 10 e os 19 anos de idade. Segundo ela, esse tipo de gestação está associada a maiores riscos de complicações obstétricas, como prematuridade, anemia, aborto espontâneo, eclâmpsia e depressão pós-parto, além de maior probabilidade de morte materna quando comparadas a outras faixas etárias.
“A maioria das gestações na adolescência são indesejadas, em grande parte devido à falta de informação, ausência de apoio familiar e comunitário, entre outros fatores. Há ainda os impactos significativos na vida das adolescentes, que precisam lidar com novas responsabilidades que afetam os horários de sono, o lazer, a convivência social e podem repercutir tanto na dinâmica familiar quanto na qualidade dos vínculos afetivos e no percurso escolar e profissional”, salienta.
Para o diretor da 16 RS, Lucas Leugi, as ações de prevenção são fundamentais. Ele destaca o trabalho desenvolvido pelo Programa Saúde na Escola (PSE) nos municípios que leva informações de qualidade aos adolescentes. “A falta de conhecimento e de orientações adequadas sobre planejamento reprodutivo são fatores diretamente relacionados aos elevados índices de gravidez na adolescência”, assinala.