Moradora de Rio Bom, Estefane de Lima, descobriu na programação um caminho de empoderamento, aprendizado e transformação social. A jovem que cursa Engenharia da Computação na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) de Apucarana, ministra ensino de programação a meninas estudantes da rede pública, dentro do projeto de incentivar mulheres na computação.
Estefane tinha 15 anos quando ganhou seu primeiro laptop, em 2020 para estudar em casa devido às restrições impostas pela pandemia do coronavírus. “Para mim, se tornou uma porta para oportunidades que antes pareciam distantes”, lembra Estefane.
Estefane estudava no Colégio Estadual do Campo Dr. Rebouças em Rio Bom quando, na mesma época, o Governo do Estado lançou o Edutech, programa de capacitação em tecnologia e programação para alunos da rede pública, desenvolvido em parceria com a Alura. Foi seu primeiro contato com programação. “Aprendi o básico de HTML, CSS e JavaScript, mas foi o suficiente para me encantar pela área e me incentivar a conhecer cada vez mais”.
Já em 2022, no último ano do ensino médio, Estefane uniu o interesse despertado pela programação a uma paixão antiga, a matemática. Ela candidatou-se a uma vaga de Engenharia da Computação na Universidade Técnica Federal do Paraná (UTFPR), unidade de Apucarana, conquistando o terceiro lugar na classificação geral.
No segundo semestre do curso, Estefane precisou complementar sua renda. A princípio em busca de um estágio, ela foi incentivada a participar de um projeto de extensão na UTFPR e conseguiu uma bolsa de estudos para ministrar aulas de capacitação de professores da rede estadual em HTML, CSS e JavaScript. “As mesmas ferramentas de tecnologia que me fizeram entrar no mundo da programação e os mesmos professores que faziam parte da minha história na rede pública”.
Mas Estefane não parou por aí. Ainda em meados de 2024, ela e uma amiga, Isabelle Rosvadoski Nofre, com quem estuda e divide uma casa, descobriram compartilhar um desejo em comum: um projeto para incentivar o ingresso de mulheres na área da computação.
Foi a partir desse desejo em comum que surgiu o Codificadoras, projeto de extensão que tem como objetivo ministrar oficinas de programação e robótica. Para coordenar o projeto, Estefane e Isabelle chamaram a professora Tamara Angélica Baldo, única mulher do corpo docente de Computação da UTFPR de Apucarana. O Codificadoras irá atender meninas do ensino médio e mulheres que já estejam envolvidas na área de computação.
“Quando tinha 15 anos e ainda estava um pouco perdida, tenho certeza de que eu poderia ter sido uma aluna beneficiada por esse projeto. Agora, sei que ainda estou me desenvolvendo e trilhando meu caminho, mas já tenho condições de oferecer para outras pessoas as mesmas oportunidades que um dia recebi”, reflete Estefane. “Para mim, é isso que permite que alguém possa ir mais longe. E foi isso que me trouxe até aqui”.
Mulheres são minoria na programação
Casos como o de Estefane ainda são raros. Segundo pesquisa do IBGE, divulgada em 2022, a presença feminina em cursos das áreas de Ciência da Computação e Tecnologia da Informação (TI) ainda é muito baixa. Naquele ano, apenas 15% dos concluintes eram mulheres. Para mudar esse quadro, reduzindo a exclusão digital de gênero e incentivando a participação feminina nas carreiras da área de tecnologia, entre outros objetivos, foi criado o Dia Internacional das Meninas nas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) pela União Internacional das Telecomunicações (UIT), agência vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU). A data foi comemorada nesta sexta-feira.