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Epidemia piora lotação da UPA de Apucarana

Da Redação

| Edição de 05 de janeiro de 2024 | Atualizado em 05 de janeiro de 2024
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Após apresentar sintomas como febre, dor pelo corpo e enjoo a dona de casa Luzia Gonzales dos Santos, 35 anos, decidiu procurar atendimento médico na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Apucarana na tarde de quinta-feira. Ela conta que chegou ao local por volta das 13 horas e até às 16h30 – horário em que concedeu entrevista - ainda não havia nem passado pela triagem. Assim como a dona de casa, centenas de apucaranenses estão lotando os pontos de atendimento de saúde do município, que enfrenta uma epidemia de dengue. Só na UPA, mais de 900 pessoas foram atendidas no dia de maior movimento pós-feriado, três vezes a capacidade da unidade.

Debilitada, Luzia conta que precisou deixar as três filhas pequenas com sua mãe para procurar atendimento médico. “Minha mãe nem podia ficar com minhas filhas, só aceitou porque liguei para ela chorando. Estou sentindo muita dor. Acho que eles deveriam saber separar quando a gente está com dor. Sei que é muita gente para atender, mas a dor não espera”, reclamou. 

O costureiro Diego Zacarias, 20 anos, que também buscou atendimento na UPA com sintomas de tosse, febre e vômito, na fila há mais de 3 horas, reclamou da longa espera e revela que é a segunda vez que procura a UPA nesta semana. A primeira vez foi na madrugada de quarta-feira, quando desistiu de procurar atendimento devido ao grande número de pacientes na fila. 

“A UPA está sempre lotada. É muito difícil eu procurar médico, quando venho é porque estou mal mesmo e hoje perdi a tarde inteira esperando. Tudo que eu queria era estar em minha casa descansando”, reclamou. 

Na opinião do jovem, há necessidade de ampliar o atendimento à população que não tem condições de pagar consulta particular. “É muita gente procurando atendimento. Acho que se tivesse um outra UPA reduziria a fila de espera”, afirmou. 

A epidemia de dengue enfrentada pelo município, que soma, de acordo com dados preliminares, cerca de 800 casos confirmados, com 14 pacientes internados no Hospital da Providência – seis confirmados e oito com sintomas -, incluindo um em estado grave, acirrou o problema da superlotação da UPA. 

Apesar da prefeitura ter disponibilizado uma UBS específica para casos de dengue que exigem maior atenção, muitos pacientes com sintomas procuram a UPA, que  tem capacidade oficial de 280 atendimentos e é voltada para casos de urgência e emergência, mas recebe pacientes encaminhados pelas UBS e também em livre demanda. Com funcionamento 24 horas, é a principal porta de entrada da saúde pública no período noturno e nos finais de semana. 

Nos últimos dias, muitos pacientes da UPA estão com sintomas da doença. Entre eles estão os dois filhos da apucaranense Heliamarisa Felicidade Garcia, 38 anos. Um deles, de 18 anos, passou mal e precisou ser encaminhado à UPA por uma ambulância após um desmaio. Além de febre e fraqueza, o jovem apresentou manchas vermelhas pelo corpo. 

A família mora no bairro Cidade Educação, ao lado do Núcleo Habitacional Dom Romeu Alberti, zona norte. Assim como outros pacientes Heliamarisa reclama na demora no atendimento. “Está faltando atenção para a saúde que está um caos em Apucarana. Os postinhos estão sempre lotados e sempre demoram para atender”, afirmou. 

OUTRO LADO

O secretário de Saúde de Apucarana, Emídio Bachiega, afirma que além da UBS Bolívar Pavão, a saúde também está encaminhando pacientes com suspeita de dengue para a UBS Romeu Milani, na área central. Ele afirma que nesta sexta-feira a demanda de atendimento da UPA estava mais controlada. Até as 16 horas, cerca de 200 pessoas tinham sido atendidas. “Abrimos as UBS para esse atendimento de dengue e estamos fazendo tudo o que é possível para minimizar esses problemas, mas temos que pedir paciência e bom senso da população nesse momento difícil que estamos enfrentando por conta da epidemia”, comenta. 

OPINIÃO DO COLUNISTA - Curisco Campoy

Uma UPA estrangulada por falta de visão

Dentro de um plano de melhoria da saúde nos municípios do interior, o Governo Federal, na primeira década de 2000, decidiu liberar recursos para construção de Unidades de Pronto Atendimento, as conhecidas UPAs. Apucarana foi uma das cidades contempladas com os recursos, cabendo ao município a definição da área a ser construída, o local e a licitação da obra.

O prefeito de Apucarana na época, João Carlos de Oliveira, numa completa falta de visão, escolheu uma área na rua Clotário Portugal, nas proximidades do Sesc, um bairro estritamente residencial. Para piorar, a área escolhida era um local onde funcionava a sede da União dos Estudantes de Apucarana, um terreno de pouco mais de 600 m2, em região de difícil estacionamento.

Enquanto outros municípios da região, igualmente contemplados com a UPA, decidiram construir em terrenos de 2 mil m2 para cima, prevendo futuras ampliações e amplo estacionamento, bem como fácil acesso para os usuários, Apucarana, na contramão, decidiu por um terreno modesto em uma área residencial, de difícil estacionamento e sem possibilidade de ampliação.

O resultado é uma UPA totalmente estrangulada, com uma sala de espera para poucas pessoas e a maioria que busca a unidade se vê obrigada a esperar em pé e até mesmo na rua para um atendimento que, infelizmente, nem sempre é rápido pela alta quantidade de pacientes para um número nem sempre suficiente de médicos o que, aliás, não é problema só de Apucarana, mas de todos municípios brasileiros porque há poucos médicos para um número cada vez mais crescente de usuários da saúde pública.

Faz mais de 10 anos que a UPA de Apucarana foi inaugurada e só agora, recentemente, se fala na construção de uma nova unidade no Jardim Ponta Grossa, em uma área maior e que resultaria em um melhor atendimento, desafogando a UPA central. Os recursos para construção estariam disponibilizados pela Secretaria de Estado da Saúde, como garante  o secretário Beto Preto, dependendo da Prefeitura iniciar a licitação.

Segundo um assessor de alto escalão da Prefeitura, o problema não é a construção da obra física da nova UPA, ‘mas a sua manutenção, que vai custar entre R$ 800 mil a R$ 1 milhão mensais para o município’, que não teria recursos alocados para um dispêndio desse porte. 

Agora, com o problema do agravamento dos casos de dengue, a procura por atendimento na UPA aumentou demasiadamente, embora a Prefeitura tenha disponibilizado local próprio para os pacientes, a UBS Bolívar Pavão. Contudo, por uma falha de gestão da Autarquia Municipal de Saúde pouco se divulgou essa alternativa à população. 

Lamentavelmente, o secretário de Saúde de Apucarana, Emídio Bachiega, que está na AMS há quase 10 anos e no comando da pasta há pelo menos 4 anos, teria chegado ao cúmulo de afirmar, em reunião para resolver o grave problema da dengue, dias atrás, que ‘não é gestor’. Segundo se soube, algumas pessoas presentes que ouviram a declaração ficaram estarrecidas e uma delas comentou posteriormente: ‘se o cara não é gestor porque esperou todos esses anos para dizer isso?’ Durma-se com um barulho desse.