Uma fábrica de Arapongas suspendeu o envio de um contêiner com móveis para os Estados Unidos após a nova tarifa imposta pelo governo americano entrar em vigor nesta semana. A medida, assinada pelo presidente Donald Trump, aplica taxa de até 50% a mais da metade dos produtos exportados pelo Brasil para os EUA, entre eles os móveis.
O contêiner carregado com estofados de couro tinha como destino Porto Rico, ilha caribenha que é território norte-americano. O proprietário da empresa Jefferson Fernando Figueiredo afirma que sem o tarifaço, a encomenda já estaria a caminho.
“Nós tínhamos três contêineres para enviar a Porto Rico. Dois já estavam no processo de liberação e seguiram viagem. O terceiro ainda não tinha sido embarcado e, com o anúncio desse tarifaço, tivemos que segurar, até porque quem paga essa taxa é o nosso cliente, quando a mercadoria chega no porto destino. Estamos aguardando para ver se muda alguma coisa dessa sobretaxa para liberar o embarque”, comenta.
A negociações com o mercado americano começaram há oito anos e as primeiras vendas concretizadas há quatro. “O nosso prejuízo é mínimo, até porque a nossa exportação para o mercado americano ainda é mínima. Estamos investindo algum tempo dentro do mercado americano para ter uma participação maior. Começaríamos a colher o resultado a partir de agora, mas com toda essa situação teremos que recuar um pouquinho”, analisa.
Grande parte das exportações da empresa são para países da América Latina como Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Bolívia, Peru, Equador, Panamá, República Dominicana. “A gente tem uma participação boa na exportação de sofás e poltronas em couro”, enfatiza.
O empresário espera que uma solução seja encontrada para normalizar a situação. “Acredito que é uma briga mais política do que econômica. Então, acredito que vão chegar em um acordo, do contrário a economia do país com certeza vai sofrer muito”, acredita. (CINDY SANTOS E LIS KATO)
Sobretaxa tem impacto limitado no polo moveleira, mas fecha portas, avalia Sima
O vice-presidente de desenvolvimento do Sindicato da Indústria de Móveis de Arapongas (Sima), Rajanand Albano da Costa, considera o impacto econômico causado pela sobretaxa na indústria moveleira araponguense relativamente pequeno, pois os EUA não são o maior mercado para as exportações do município, que tem como principais parceiros os países da América Latina. Contudo, Costa enfatiza a importância estratégica do mercado americano, altamente cobiçado pela indústria devido ao seu potencial de crescimento e lucratividade. No entanto, alcançar esse mercado exige um intenso e demorado trabalho comercial, envolvendo estratégias personalizadas e um profundo conhecimento das necessidades e expectativas dos consumidores americanos.
Atualmente pelo menos cinco fábricas moveleiras de Arapongas exportam ou já exportaram para os EUA. “Essas empresas estão buscando esse mercado há bastante tempo. É um trabalho a longo prazo. A economia americana é 13 vezes maior que a brasileira, por isso queremos tanto ingressar nesse mercado. E quem consegue superar essa barreira alcança muito sucesso”, afirma.
Rajanand vê o momento atual como uma oportunidade para o Brasil se posicionar de forma competitiva no mercado global. “Os EUA já flexibilizaram tarifas sobre diversos produtos brasileiros, e é crucial que o governo negocie urgentemente para estender esses benefícios a outros produtos, como móveis de madeira e estofados de couro. Se o Brasil conseguir as menores taxas sobre móveis, poderá se tornar um dos principais parceiros comerciais dos americanos nesses segmentos”, analisa.