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Mauá da Serra comemora 50 anos de uma revolução na agricultura

Da Redação

| Edição de 18 de outubro de 2024 | Atualizado em 18 de outubro de 2024

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Atualmente utilizado em larga escala, o sistema de plantio direto era, na década de 70, uma aposta de visionários. Introduzido no país pelo produtor Herbert Bartz, em 1972, em Rolândia, o método de plantar sem revolver o solo usando como cobertura a palhada da colheita anterior chegou dois anos depois em Mauá da Serra e transformou o perfil das terras agricultáveis do município, conhecidas por produzirem sapés e samambaias - indício de solo ácido e fraco -, numa das mais produtivas do Estado do Paraná.

No próximo dia 23, Dia Nacional do Plantio Direto, os produtores de Mauá da Serra irão comemorar os 50 anos do SPD no município, com homenagens a produtores, entidades e instituições consideradas fundamentais para o sucesso e avanço do sistema na região.

Grande produtora de grãos e cereais, a região mantém uma produtividade acima da média no Estado e é reconhecida como referência em Sistema Plantio Direto no Brasil, tendo também uma das terras rurais mais valorizadas no Estado.

A título de comparação, a média de produtividade da soja no município é de 3.600kg por hectares, contra uma média nacional de 3.239kg/ha, de acordo com levantamento de safra 2023/2024 da Conab.

No milho - cereal que, inclusive, tem até festa anual na cidade - , o desempenho é ainda maior. Na safra de verão, a produtividade média alcança 11.000 Kg/ha, quase o dobro dos 5.784kg/ha da média nacional; no trigo, a produtividade média é de 3.500kg/ha, contra 2331kg/ha na média nacional.

O produtor Sérgio Higashibara faz parte do grupo de pioneiros que se lembra bem dos tempos em que erosão e voçoroca eram ameaças constantes. Ele vive em Mauá da Serra há 65 anos e se recorda com precisão dos momentos de incertezas devido às dificuldades para controlar o processo de degradação do solo.

“Nossa vida, naquela época, era muito difícil. Não havia as tecnologias e as facilidades de hoje. Tudo exigia muito esforço e trabalho. Muita coisa tivemos que ir aprendendo na prática”, pontua.

O agricultor pioneiro José Yamanaka, tem ainda muitas lembranças do que era produzir no município. “Se não fosse o Plantio Direto, nós nem estávamos mais aqui. A terra não suportava tanta erosão”, diz ele. O produtor Humberto Uemura tem a convicção de que, se os produtores não tivessem tido a coragem de enfrentar o problema e continuar na terra, hoje Mauá da Serra seria uma região, provavelmente, de reflorestamento e pastagem. “E muitos rios poderiam estar assoreados”, comenta.

100% DE ADESÃO

Segundo o agrônomo Daniel Marubayashi, que acompanha os produtores de Mauá da Serra há oito anos, 100% dos produtores da região seguem os passos do Sistema Plantio Direto.

“O Sistema Plantio Direto trouxe uma revolução agrícola na região e, posteriormente, no resto do país com benefícios claros em produtividade, qualidade do solo, controle de erosão e sustentabilidade. Com a adoção desse sistema, ocorreu um acúmulo de matéria orgânica, alterando a química e a biologia do solo, trazendo aumento da fertilidade e, consequentemente, de produtividade”, destaca.

Reflexo no preço das terras

Outro impacto significativo foi no preço das terras agricultáveis do município. Segundo Hernandes Takeshi Kanai, engenheiro agrônomo do IDR-PR Unidade Municipal de Mauá da Serra, um dos fatores que influencia na valorização de terras é a construção da fertilidade do solo.

“Durante anos, quando o município de Mauá da Serra foi colonizado, era conhecido como uma terra de baixa fertilidade. Desde o começo os produtores sabiam que para produzir no município, deviam investir para corrigir o solo fazendo uma boa adubação, sendo que isso foi passado de geração para geração, e como consequência, nos dias de hoje, os solos da região possuem excelente fertilidade proporcionando uma boa produção”, testemunha.

Hoje, o valor de um hectare agricultável no município, de acordo com dados da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Estado do Paraná é de R$ 164,5 mil, o equivalente a 1.370 sacas de soja, considerando o preço de R$120 por saca. Na região Norte do Paraná, a média do hectare agricultável é de R$ 141,1 mil.

Memória

Para quem acompanha essa história desde o começo, a conclusão é uma só. “A evolução é constante. O futuro parece promissor, a evolução da tecnologia vem facilitando muita coisa. Cada vez mais entendemos como a natureza funciona e como usar isso em nosso favor”, destaca o produtor Sérgio Higashibara.

Para ele, outro fator de sucesso do sistema no município, é a preservação da história, que é passada de geração a geração por meio de eventos realizados para comemorar datas importantes, como os 30 anos e, agora, os 50 anos do Sistema Plantio Direto no município, e a inauguração, há 12 anos, do Museu do Plantio Direto de Mauá da Serra, o primeiro do mundo.

“Acredito que lembrar da história é muito importante para valorizarmos o trabalho que foi feito, a continuar o legado que nos foi deixado e lembrar os jovens das dificuldades que foram enfrentadas no passado. O Museu é um lembrete de tudo isso. Os produtores daqui sabem que devem continuar o legado e procurar melhorar sempre”, frisa.