OPINIÃO

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É o purgatório...

Por Irineu Berestinas, de Arapongas

| Edição de 19 de novembro de 2015 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Essa conta é salgada, mas vai ter de ser resgatada por todos os brasileiros, porque, para recuperar a normalidade, temos de passar, necessariamente, pelo purgatório. Não há saída indolor, tão a gosto dos nossos "desenvolvimentistas". Aliás essa confraria joga sempre para a torcida, rolando os seus fundamentos ideológicos. Normalmente, é coisa da razão dialética e do materialismo histórico, carta de fiança para conduzir a classe operária ao paraíso. Quem tem afinidade com as Ciências Sociais sabe do que estou falando.

Insisto: as nossas indústrias conviveram, até então, com enormes dificuldades, em razão de uma delirante permissividade cambial, traduzida na valorização do real por largo período de tempo tirando a sua competitividade. E as empresas, de um modo geral, tanto as exportadoras quanto as que produziam para atender apenas o mercado interno amargaram o resultado dessa realidade.

Vejamos: os produtores nacionais deparam-se com dificuldades estruturais: baixa produtividade da nossa economia e carga tributária das mais elevadas, mesmo em comparação com os países emergentes. A essas dificuldades ainda adicionaram-se os dissabores do real valorizado, o que alterou os preços relativos dessa engrenagem (bens produzidos internamente e importados).

De outro lado, na exportação, ainda existe a vantagem de grande parte dos impostos acumulados no processo produtivo serem compensados com a isenção. Mas quem concorre internamente com os produtos importados tem de amargar o peso da carga tributária, sem choro, nem vela. Como pode o leitor notar, ninguém se salvou desse desvario.

Vamos avançar nessa discussão. Diante do dólar valorizado, as mercadorias e os serviços que vêm de fora, têm o seu valor encarecido; já, com o dólar desvalorizado, esses produtos ficam mais baratos.

Nas exportações, nós temos a seguinte realidade: com o dólar valorizado, os produtos nacionais ganham competitividade; já, com o dólar desvalorizado, os produtos do setor perdem-na.

Isso tudo nos leva à seguinte conclusão: diante do real valorizado por extenso período, adquirimos produtos do exterior em detrimento dos que eram produzidos internamente. Quer dizer, perdemos empregos, impostos e afastamos as empresas da possibilidade de atualização tecnológica

Por que o purgatório? Hoje, em face da nova realidade cambial, necessária, estamos perdendo o câmbio como instrumento de combate à inflação, sobrecarregando os outros instrumentos (políticas fiscal, monetária e salarial). E ainda mais: os produtos destinados à exportação terão a sua oferta reduzida, o que vai gerar a elevação dos seus preços internamente. Outro aspecto relevante, o patrimônio brasileiro fica mais acessível aos investidores estrangeiros, pois com os mesmos dólares têm como adquirir uma quantidade maior de ativos em nosso País. Mas se pretendemos recuperar as nossas indústrias, teremos de conviver um bom período de tempo com essa realidade cambial, apesar dos seus efeitos colaterais perniciosos. Simultaneamente, o governo tem o dever de trabalhar pelo ajuste da macroeconomia, que passa, necessariamente pelo redução do déficit fiscal e do montante da dívida pública, criando condições para que o câmbio volte a flutuar no médio prazo, fazendo intervenções apenas nos momentos de excesso ou falta de dólares no mercado.

Em todos esses comentários, não podemos perder de vista que o real valorizado por longo período foi o Calcanhar de Aquiles do Plano Real, aquela engenharia econômica produzida em 1994 pelos geniais economistas Pérsio Arida, André Lara Rezende e Edmar Bacha, que sepultou a hiperinflação em nosso País, período em que, vamos recordar, os supermercados remarcavam os preços diariamente.