Alvo da Operação Lava Jato, que cumpriu ontem mandados de busca e apreensão em seus endereços residenciais e comerciais, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse ontem que não há hipótese de renunciar, acusou o governo de promover a ação por "revanchismo" e na tentativa de jogar nas costas do PMDB a "roubalheira do PT".
Cunha cobrou uma decisão imediata de seu partido no sentido de romper com o Palácio do Planalto. "O que me estranha é essa concentração no PMDB no dia da votação no Conselho de Ética e na véspera da decisão [do Supremo Tribunal Federal] sobre o impeachment. Todos sabemos que o assalto da Petrobras foi patrocinado pelo PT."
Além de Eduardo Cunha, a operação da Polícia Federal mirou ontem o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) e os senadores Fernando Collor (PTB-AL) e Fernando Bezerra (PSB-PE).
Ao todo, 53 mandados de busca e apreensão foram emitidos para endereços de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Pará, Ceará e Alagoas.
Segundo a Procuradoria-Geral da República, são nove os políticos com foro privilegiado alvo desta operação.
Foram emitidos mandados de busca e apreensão que atingiram inclusive imóveis de Cunha, incluindo endereços no Rio, sua residência oficial em Brasília e a diretoria-geral da Câmara, órgão responsável por fechar contratos e ordenar despesas. Três celulares de Cunha foram apreendidos. Ministros também tiveram buscas em seus endereços.
Os policiais foram autorizados a acessar dados de computadores, smartphones, celulares em geral, tablets e outros dispositivos eletrônicos e a apreender aparelhos eletrônicos, anotações, registros contábeis e comunicações realizadas entre os investigados.
Renan chegou a ter um pedido contra si, feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, negado pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. Não houve prisões na etapa atual da operação, chamada Catilinárias.
O nome da operação é referência a uma série de discursos proferidos pelo cônsul romano Cícero por volta de 63 a.C. contra o senador Catilina, acusado de tentar derrubar a República.
Dois ministros peemedebistas foram alvo da ação da PF: Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) e Henrique Eduardo Alves (Turismo). Fábio Cleto, um dos principais operadores de Cunha e que ocupava uma das vice-presidências da Caixa Econômica Federal até a semana passada, também, além de Altair Alves Pinto, apontado como responsável por transportar valores para o parlamentar.
PT teme que investigação da PF unifique PMDB
A cúpula do PT acompanhou ontem com preocupação o desdobramento da nova fase da Operação Lava Jato que atingiu a cúpula do PMDB. Na avaliação do comando petista, a operação pode unificar os peemedebistas em torno do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Foram cumpridos mandados de busca e apreensão na residência oficial do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e dos ministros Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) e Henrique Eduardo Alves (Turismo), também peemedebistas.
Os petistas temem que, alvo da operação, os peemedebistas venham a concluir que o impeachment, com a chegada de Michel Temer ao poder, seja a única maneira de proteger o PMDB. Os petistas estão particularmente preocupados com uma reação do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), que tem defendido o governo de Dilma dentro do Congresso. A ação da PF ainda atingiu três pessoas próximas de Renan: o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE), o senador e ex-ministro Edison Lobão (PMDB-MA) e Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro.