Eu sei que esse título pode soar sensacionalista demais, uma vez que o termo “morte” nos pega desprevenidos, causando uma dor quase imediata, pois todos nós somos tomados por lembranças de alguém já perdemos. Entretanto, a morte é a parte inevitável daquilo que é viver, dando também sentido a própria existência. Morrer significa ter vivido e isso já é muita coisa. Mas hoje não quero escrever sobre essa inevitabilidade da morte, mas daquela que é necessária ainda em vida.
Entendi há pouco tempo como mãe, que uma hora o luto por uma etapa da vida dos nossos filhos é inevitável. Eu sei que outros termos caberiam aqui, mas a suavização do termo não esconderia a sua seriedade. Nossos bebês precisam dar espaço às crianças que surgem, bem como essas aos adolescentes que aparecem do nada. E assim, como em um piscar de olhos, nossos bebês já não são os mesmos, como se tivessem sido trocados por outras pessoas, com outras características e personalidades. Pode ser bem batido, mas não custa repetir: “e está tudo bem”.
A inenarrável emoção de pegar aquela pequena criatura no colo pela primeira vez, ouvir suas primeiras palavras e ver seu torto caminhar, deve dar espaço para que possamos apreciar o que a outra fase nos reserva. Como disse na semana passada, nós que somos mães e pais, somos os guardiões das memórias dos pequenos, mas não devemos nos prender a elas. Chega um momento em que é preciso deixar que elas cresçam e, para nós mães, principalmente, é quase um luto, pois o sentimento é que aos poucos o cordão umbilical que já havia sido cortado, desaparece.
“Filhos são para o mundo”, é o que dizem, mas os meus não, pelo menos não assim. Claro que quero que meus filhos ganhem o mundo, devo deixá-los crescer e se aventurar, mas também com a certeza de que podem voltar ao ninho. Entender que eles já não são nossos bebês não significa que não possamos cuidar deles como nossos tesouros mais preciosos, pois sempre assim serão, contudo, ter fé de que fizemos um bom trabalho e saberão caminhar pelo mundo, sem fazer parte dele.
A mãe e o pai do adolescente já não devem ser os mesmos da infância, isso nos causa estranheza e uma certa dor. Enquanto os filhos aprendem a ser indivíduos, nós aprendemos a ser pais. Compartilhamos o momento do aprendizado. Morrem os pais da criança e nascem os pais do adolescente. É muito comum que os adolescentes se afastem dos pais por um período, até mesmo com vergonha de demonstrar afeto perto de estranhos, onde antes qualquer chegada era motivo para colo e um chamego.
Nós, pais e mães, devemos estar sempre atentos a essa fase “rebelde”, pois não devemos ser brandos demais e demonstrar fraqueza, nem mesmo sermos rudes demais e um controle total, pois as “amizades do mundo” serão sempre mais interessantes e receptivas as mudanças. Ser pai e mãe não é uma missão fácil, estamos sempre aprendendo, mas vale a pena cada segundo. Temos uma frase com nossos filhos, para que eles repitam sempre que diz: “eu vou crescer, mas vou ficar sempre no colinho do papai / mamãe”. Ela significa que aconteça o que acontecer, haverá sempre um colo, um abrigo e um lugar seguro para que eles retornem, mesmo que não sejam mais os meus bebês.