ABRAHAM SHAPIRO

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Não insista em iluminar cegos

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| Edição de 06 de outubro de 2025 | Atualizado em 06 de outubro de 2025

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Há gentilezas que beiram o suicídio intelectual. Uma delas é a tolice de indicar a alguém um livro, um filme ou uma música que você amou. É o tipo de boa ação que termina em frustração e arrependimento. Você entrega beleza e recebe de volta um “achei legal”. Oferece profundidade e ganha um olhar de peixe morto. Às vezes, ainda precisa ouvir um julgamento sobre o seu “gosto duvidoso”, como se o erro fosse seu por ter esperado demais de quem lê de menos.

Acontece o tempo todo.

Quanto mais rica a obra, maior a probabilidade de ela ser desprezada pelos apressados de espírito. O ignorante não se incomoda com o conteúdo. Ele se incomoda com o espelho que o conteúdo oferece. E como não suporta o próprio reflexo, ataca quem o indicou. É a vingança do raso contra o profundo, o triunfo da imbecilidade sobre o bom senso.

O problema é que os bem-intencionados insistem em “evangelizar” quem não quer ser salvo. Tentam elevar quem tem prazer em rastejar. Conhecimento não é presente: é troféu de quem o busca. É mérito de esforço. Dar referências a quem não tem repertório é o equivalente cultural de dar vinho caro a quem mistura com refrigerante.

Nem todo ouvido merece boa música. Nem todo olhar merece arte. Guarde as suas referências como quem protege um diamante — longe das mãos de quem acha que vidro e cristal são a mesma coisa. E quando alguém pedir indicações, sorria com paciência e diga: “Prefiro não te decepcionar.”