Enquanto os extremistas se digladiam em retóricas desvairadas desviam a atenção da nação para o que verdadeiramente importa: a nossa conjuntura econômica. Volto a insistir na importância de observarmos, refletirmos e agirmos com base em indicadores críveis e na utilização da racionalidade humana como bússola, não em paixões passageiras. Os números falam e, em muitos casos, gritam. E quando isso acontece muitos agentes econômicos, incluindo pessoas de pele e ossos, sentem na própria carne. A combinação de desconfiança empresarial, déficits persistentes e crescimento medíocre é um convite para o colapso fiscal e social.
O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), divulgado pela Confederação Nacional da Indústria, deveria ser um termômetro do ânimo produtivo do país. No entanto, ele se tornou um verdadeiro diagnóstico clínico da desilusão. Em outubro de 2025, o ICEI marcou 47,2 pontos, ligeiramente acima do mês anterior, mas ainda abaixo da linha dos 50 pontos, que separa a confiança da desconfiança. Ou seja, há dez meses consecutivos os empresários vivem em compasso de incerteza.
O detalhamento do índice revela o quadro sombrio. As condições atuais da economia foram avaliadas em apenas 36,7 pontos, o que significa que o empresário brasileiro vê o ambiente macroeconômico como deteriorado. Mesmo as condições das próprias empresas, embora um pouco melhores, não passam de 46,5 pontos, também abaixo da linha divisória. Já as expectativas para os próximos seis meses ficaram em 49,1 pontos, levemente abaixo do nível de otimismo. O setor produtivo parece ver uma tempestade no horizonte e todos temos que nos preocupar.
Enquanto a indústria oscila entre o ceticismo e o desalento, o Relatório Focus do Banco Central mostra um cenário fiscal cada vez mais preocupante. A expectativa de resultado primário previsto para 2025 segue apontando um déficit de 0,5% do PIB, e o resultado nominal, que inclui o peso dos juros, amarga expectativa de um déficit de 8,5%. Isso significa que, mesmo com toda a retórica de austeridade, o Estado gasta mais do que arrecada e ainda se endivida para pagar o que já deve. A dívida líquida do setor público, que deve chegar a 65,8% do PIB, continua subindo, num círculo vicioso em que o endividamento alimenta o déficit e o déficit engorda a dívida.
A cereja do bolo indigesto é a previsão de crescimento pífio: apenas 2,16% para o PIB em 2025. E o futuro próximo não promete alívio. O IGP-M, índice que baliza contratos de aluguel e preços de atacado, deve subir em torno dos 4% nos próximos três anos, evidenciando uma pressão inflacionária que não cede. Novamente nos deparamos com uma tempestade perfeita com crescimento anêmico, inflação latente e desequilíbrio fiscal, a tríade clássica da instabilidade econômica.
O mais grave é a sensação de que o governo perdeu o rumo. A cada semana, o discurso oficial muda: ora é o gasto público como motor do crescimento, ora é o corte de despesas em nome da responsabilidade fiscal. No fim, nem estímulo nem contenção. O que se vê é um Estado paralisado por sua própria incoerência, incapaz de formular um plano consistente para retomar a confiança dos agentes econômicos. Enquanto isso a Selic estaciona em 15%, penalizando o investimento produtivo e premiando a especulação financeira.
Nossos mandatários parecem ignorar a necessidade de olhar para o futuro com responsabilidade e insistem em empurrar com a barriga problemas que já se transformaram em abismos. A conta não fecha sozinha. O governo precisa aceitar que em economia a ilusão custa muito caro e prejudica a todos.