O Banco do Brasil (BB) enfrentou um primeiro semestre desafiador, com o lucro líquido ajustado caindo para R$ 11,2 bilhões, uma redução de 40,7% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Essa queda foi atribuída a novas regras contábeis e ao aumento da inadimplência, conforme divulgado no balanço da instituição na noite de quinta-feira (14).
No segundo trimestre, o lucro foi de R$ 3,8 bilhões, representando um declínio de 60% em relação ao mesmo período de 2024. O BB destacou que este é um ano de ajustes, visando uma expansão futura.
"O ano de 2025 é de ajuste para aceleração do crescimento. Projetamos lucro entre R$ 21 e R$ 25 bilhões e seguimos com investimentos estruturantes para geração de riqueza aos nossos acionistas, oferecendo a melhor experiência e soluções mais adequadas aos nossos clientes. Isso passa pelo relacionamento pautado pela proximidade, pelo uso intensivo de tecnologia e capacitação permanente dos nossos funcionários", destacou em comunicado a presidenta do BB, Tarciana Medeiros.
Se o lucro de 2025 atingir a projeção máxima de R$ 25 bilhões, ainda será inferior ao lucro recorde de R$ 37,9 bilhões registrado em 2024.
Impacto das Novas Regras Contábeis
Desde janeiro, uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) alterou a contabilidade das instituições financeiras, impactando os resultados. As novas regras, aprovadas em 2021, passaram a vigorar este ano, mudando o modelo de provisões para perda esperada, baseado em estimativas. Isso afetou o reconhecimento de algumas despesas e receitas.
Com as novas normas, o reconhecimento das receitas de juros das operações em estágio 3 (atrasos acima de 90 dias) pelo regime de caixa fez com que o banco deixasse de reconhecer R$ 1 bilhão em receitas de crédito. O regime de caixa permite o reconhecimento de receitas apenas quando o dinheiro efetivamente entra no caixa da instituição.
Aumento da Inadimplência
O índice de inadimplência, considerando atrasos superiores a 90 dias, subiu para 4,21% no segundo trimestre, comparado a 3,86% no primeiro trimestre de 2024 e 3% no segundo trimestre do ano passado. O agronegócio, onde o banco lidera na concessão de crédito, foi o principal responsável por esse aumento.
Revisão das Projeções para 2025
Com a queda no lucro, o BB revisou suas projeções para 2025. Os novos números são:
- Crescimento da carteira de crédito: 3% a 6%, ante estimativa anterior de 5,5% a 9,5%;
- Margem financeira bruta: R$ 102 bilhões a R$ 105 bilhões; em maio, a projeção não havia sido divulgada;
- Custo do crédito: R$ 53 bilhões a R$ 56 bilhões; em maio, a projeção não havia sido divulgada;
- Lucro líquido ajustado: R$ 21 bilhões a R$ 25 bilhões; em maio, a projeção não havia sido divulgada;
- Receitas com serviços: projeção mantida entre R$ 34,5 bilhões e R$ 36,5 bilhões;
- Despesas administrativas: projeção mantida entre R$ 38,5 bilhões e R$ 40 bilhões.
Expansão da Carteira de Crédito
Apesar da queda no lucro, o BB ampliou sua carteira de crédito no segundo trimestre, encerrando junho em R$ 1,3 trilhão, um aumento de 1,3% no trimestre e de 11,2% em 12 meses.
Os resultados por segmento de crédito foram:
- Pessoa Física: R$ 342,6 bilhões no fim de junho, alta de 2% no trimestre e 8% em um ano, com destaque para a nova modalidade de crédito consignado para CLT.
- Pessoa Jurídica: R$ 468 bilhões, alta de 1,8% no trimestre e de 14,7% em um ano. Desse total, R$ 271 bilhões são para grandes empresas e R$ 75 bilhões para clientes do governo.
- Agronegócios: R$ 404,9 bilhões, alta de 8% em um ano, com destaque para as linhas de custeio e investimento. Nos nove meses do Plano Safra 2024/2025, o Banco do Brasil desembolsou R$ 225,8 bilhões em crédito ao segmento e pretende emprestar R$ 230 bilhões para o Plano Safra 2025/2026.
- Carteira de Crédito Sustentável: R$ 396,5 bilhões, financiando atividades que geram impactos sociais e ambientais positivos, com alta de 10,6% em 12 meses.
Receitas e Despesas
As receitas de prestação de serviços somaram R$ 8,8 bilhões no segundo trimestre, um aumento de 4,7% em relação ao trimestre anterior, mas uma queda de 1% em relação a junho do ano passado.
As despesas administrativas totalizaram R$ 9,7 bilhões no segundo trimestre, alta de 1,9% em relação ao primeiro trimestre e de 4,7% na comparação com junho de 2024. O BB justificou o aumento com a contratação de servidores aprovados no último concurso público e ao aumento de salários de 4,6% concedido em setembro do ano passado.
Distribuição de Dividendos
Devido à queda dos lucros, o Banco do Brasil reduziu de 40% para 30% a parcela do lucro distribuída aos acionistas. Em julho, o Relatório Bimestral de Receitas e Despesas reduziu a projeção de dividendos de estatais para 2025 de R$ 43,4 bilhões para R$ 41,9 bilhões. Na ocasião, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou que a queda se devia à diminuição de dividendos pagos pelo Banco do Brasil ao governo, maior acionista do banco.
Com informações da Agência Brasil