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Um terço dos casos de violência política no RJ tem motivação de ódio

(via Agência Brasil)

| Edição de 14 de outubro de 2025 | Atualizado em 14 de outubro de 2025

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Um em cada três casos de violência política na região metropolitana do Rio de Janeiro é motivado por ódio, abrangendo questões como racismo, misoginia, homofobia e transfobia. Essa é a conclusão de um estudo do Observatório das Favelas, uma organização da sociedade civil, divulgado recentemente.

O levantamento revela que, entre janeiro de 2022 e junho de 2025, ocorreram 267 casos de violência política no Grande Rio, dos quais 89 foram motivados por ódio.

De acordo com o pesquisador Leandro Marinho, um dos autores do estudo, a política tem se tornado um canal para a expressão de ódios que se transformam em atos de violência política, "muito em função da ascensão da extrema direita no país".

O estudo também destaca que, de 2022 para 2024, o número de ataques contra pessoas negras dobrou, passando de 17 para 30 casos.

Marinho observa que esse dado reflete um padrão estrutural e histórico de exclusão e silenciamento de lideranças políticas negras, associado ao aumento da presença de negros na política.

"Há uma relação entre o aumento de candidaturas negras e a maior vulnerabilidade dessas candidaturas", afirma o pesquisador, lembrando que nas duas últimas eleições, 2024 e 2022, houve mais candidatos negros do que brancos. Em 2024, 52,7% dos candidatos eram negros, segundo a Justiça Eleitoral.

Por outro lado, a violência política contra brancos diminuiu de 33 para 30 casos no mesmo período.

Agressão verbal

Os pesquisadores também classificaram como violência política a repressão a manifestações contra operações policiais. Entre os 267 casos registrados de janeiro de 2022 a junho de 2025, os mais frequentes foram:

  • Agressão verbal: 15% dos registros
  • Repressão policial a manifestação política: 13%
  • Atentado contra a vida (não resultou em morte): 12%
  • Execução: 12%
  • Ameaça: 10%
  • Agressão física: 9%
  • Ameaça de morte: 8%
  • Ataque a manifestação política: 4%
  • Outros: 16%

Em 30% dos casos, armas de fogo foram utilizadas. Durante o período de três anos e meio, ocorreram 33 atentados contra a vida e 31 execuções.

Agressores

O Observatório das Favelas identificou que, entre os principais responsáveis pelos casos de violência política, estão:

  • Políticos: 59 registros
  • Policiais: 58
  • Grupos armados: 29

Entre os atos cometidos por políticos, os mais comuns foram:

  • Agressão verbal: 19
  • Agressão física: 12
  • Ameaça: 9

Nos casos envolvendo policiais, 44 dos 58 registros estavam relacionados a manifestações políticas:

  • Repressão a manifestação política: 35
  • Ataque a manifestação: 5
  • Prisão arbitrária na manifestação: 4

“É um dado que, sem dúvida, indica o quanto as instituições policiais são pouco afeitas à democracia, pouco preparadas para lidar com manifestações democráticas”, avalia o pesquisador Leandro Marinho.

A Agência Brasil solicitou comentários à Secretaria de Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro, mas a pasta informou que não comenta sobre os dados, "uma vez que não tem conhecimento sobre a metodologia utilizada para sua coleta".

Período eleitoral

O estudo do Observatório das Favelas observa que há um aumento nos registros de violência política durante o período eleitoral, que os pesquisadores classificam como de junho a outubro dos anos eleitorais.

Na Baixada Fluminense, região que inclui municípios como Nova Iguaçu, Japeri, Queimados e Duque de Caxias, os pesquisadores têm dados desde 2015. Foram identificadas 65 execuções no período.

Fora do período eleitoral, ocorre uma morte a cada 75,6 dias. Durante o período eleitoral, há um assassinato político a cada 22,5 dias. "À medida que as eleições se aproximam, o ritmo dos assassinatos mais que triplica", destaca o documento.

Pesquisa

Para realizar o levantamento, os pesquisadores utilizaram casos noticiados pela imprensa. A pesquisa considerou violência política não só a cometida contra políticos eleitos e candidatos, mas também contra militantes, cabos eleitorais e lideranças comunitárias.

Os dados foram coletados na região metropolitana da capital fluminense, incluindo a Baixada Fluminense, conhecida por seu histórico de violência política, e a Baía de Ilha Grande, no litoral Sul do Rio de Janeiro, região influenciada pela atividade de milícias.

O levantamento foi realizado em parceria com o Laboratório de Estudos sobre Política e Violência (LEPOV) da UFF e o Laboratório de Análise da Violência (LAV) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Sinal de alerta

O pesquisador João Trajano, coautor do estudo, pondera que “não dá para comparar, em termos de ofensividade, um homicídio, um atentado contra a vida e uma ofensa”. No entanto, ele acredita que o estudo aponta um “sinal de alerta para a saúde e para o avanço da nossa democracia”, especialmente na política "miúda, do chão", ou seja, mais distante da macro política, como no Congresso Nacional.

“Quando juntamos todas essas dinâmicas e práticas, percebemos que existe uma lógica de atuação política totalmente contrária aos padrões liberais competitivos da política democrática”.

Rigor das instituições

O pesquisador do Observatório e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) André Rodrigues acredita que um dos caminhos para diminuir a violência política no estado do Rio é aumentar o rigor da Justiça Eleitoral na apuração de envolvimentos criminais de candidatos na política municipal.

“Muitos cientistas políticos afirmam que nossas instituições são fortes. De fato, do ponto de vista federal e em alguns estados, sim. Mas, quando olhamos para a política local, elas são muito frágeis e contaminadas por lógicas que ainda incluem áreas de coronelismo, clientelismo e mandonismo”, avalia.

Rodrigues também sugere ampliar o rigor para candidaturas de agentes de segurança pública. Ele observa que, atualmente, basta se licenciar para disputar uma eleição e, se não eleito, o agente pode retornar ao cargo.

“Uma quarentena para que o agente entre na política municipal, porque ele é um agente armado”, recomenda. “E o impedimento de que ele utilize o nome de sua atuação pública, seu cargo ou patente na urna para que esse capital de ser um agente armado do estado não seja convertido em capital político”, completa.

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Com informações da Agência Brasil