A garantia de uma política econômica favorável aos negócios, a situação fiscal do país, a necessidade de descentralização da industrialização e a dificuldade de relacionamento com o Congresso Nacional são os maiores desafios do vencedor das eleições presidenciais deste domingo (30). Seja Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou Jair Bolsonaro (PL) o vitorioso nas urnas, esses temas precisam ganhar prioridade nos próximos quatro anos, segundo especialistas e lideranças empresariais e políticas de Apucarana e Arapongas ouvidos pela reportagem da Tribuna.
Presidente do Sindicato da Indústria Moveleira de Arapongas (Sima), o empresário José Lopes Aquino afirma que os rumos econômicos não podem ser alterados independentemente do vencedor da disputa presidencial. Segundo ele, o Brasil conseguiu recuperar a atividade econômica no pós-pandemia, mesmo quando a expectativa era de dificuldades. “Na realidade, o empresariado como um todo, desde os que atuam no varejo, setor de serviços até na indústria, tem a percepção de que os caminhos que a gente está percorrendo com a política econômica atual tem gerado mais oportunidades”, afirma, observando que o próprio ex-presidente Lula já teria se manifestado mais flexível nesse sentido.
Segundo ele, há uma redução contínua nos índices de inflação e também queda no desemprego no país. “Toda expectativa negativa que foi criada pela situação da pandemia não se confirmou por conta do acerto da política monetária”, diz. Aquino afirma que o termo “política liberal” é interpretado de forma pejorativa. “’Na verdade, é uma maior liberdade de atuação, na qual o estado permite e dá melhores condições para que a iniciativa privada tenha uma maior capacidade de ação”, avalia.
Presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Apucarana (Sivana), Aída Assunção, também valoriza os aspectos econômicos, principalmente a redução da inflação. Segundo ela, é uma situação que precisa ser mantida para garantir a competitividade do setor comercial.
Para o economista Rogério Ribeiro, professor da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), o principal desafio do vencedor das eleições, no entanto, é o equacionamento das contas públicas. “Eventualmente, a realização de déficits é aceitável e até necessária, como no caso da pandemia em 2020. Porém, não podem ser recorrentes. Há uma expectativa de que a dívida líquida do setor público salte dos atuais 58,5% do PIB (Produto Interno Bruto) para algo em torno de 68% ao final do ano de 2026. Com este nível de endividamento é muito difícil estabilizar os preços e manter os juros em níveis aceitáveis para manter os investimentos e, consequentemente, ter um crescimento econômico relevante”, analisa.
Industrialização nos municípios
Presidente da Associação dos Municípios do Médio Paranapanema (Amepar), o prefeito de Arapongas, Sérgio Onofre (PSC), cobra a ampliação do olhar do presidente eleito para os municípios. “É fundamental buscar políticas de descentralização, principalmente da industrialização, beneficiando mais os municípios de pequeno e médio portes. É preciso menos Curitiba, menos Ponta Grossa, por exemplo, e mais Amepar e Amuvi (Associação dos Municípios do Vale do Ivaí)”, pondera o prefeito.
Wanderlei Faganello, presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Apucarana (Acia), também destaca a importância de investimentos na industrialização. No entanto, ele foca na necessidade de incentivos à inovação e à tecnologia. “É preciso utilizar a estrutura das universidades para aumentar as oportunidades de modernização das indústrias, por exemplo. O País tem muito potencial para isso”, afirma.
Além disso, Faganello cita como desafios fundamentais que precisam ser enfrentados a questão da melhoria dos indicadores de educação e da saúde pública. “É necessário garantir uma educação sólida de base, fundamental para construção do futuro das crianças, e também um modelo de saúde que descentralize e melhore o atendimento nos municípios do interior”, assinala.
Relação com o Congresso Nacional
Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e pesquisador de temas relativos à política e à democracia, Elve Cenci afirma que a relação com o Congresso Nacional , especialmente com o chamado “Centrão” é outro desafio a ser enfrentado pelo vitorioso. “O ‘centrão’ tomou conta do orçamento nos últimos dois anos. Será preciso rever essa relação de poder”, afirma. O chamado “Centrão” é o grupo de partidos que domina a pauta na Câmara e no Senado.
Outro grande desafio, segundo ele, será apaziguar as relações políticas, começando pelo candidato derrotado, que deve aceitar o resultado das urnas. “Quando um partido é derrotado, ele automaticamente precisa ir para a oposição – preferencialmente construtiva - e esperar os próximos quatro anos para tentar novamente se eleger. Esse é o normal no processo democrático e que ocorreu ao longo da história recente do país”, afirma Cenci.
Dentro desse contexto, ele vê com preocupação os recentes ataques, principalmente do atual presidente, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e as fakes news divulgadas sobre supostas fraudes nas urnas eletrônicas e irregularidades no processo eleitoral.
O terceiro ponto considerado pelo cientista político como “desafiador” diz respeito à economia. “As contas públicas estão destruídas. Você tem uma situação delicada, com os cenários externo e interno preocupantes. A questão dos juros altos é preocupante e também exigirá muito do próximo mandatário”, completa.