POLÍTICA

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Violência nossa de cada dia

Da Redação

| Edição de 05 de janeiro de 2023 | Atualizado em 05 de janeiro de 2023

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Não é surpresa que em apenas seis dias do novo ano já vejamos muitos atos de violência, mesmo depois de usarmos branco no réveillon pedindo a abstrata paz. Logo no primeiro dia de mandato o presidente Luís Inácio Lula da Silva revogou decretos de acesso a armas e de CACs (colecionadores de armas, atiradores e caçadores), o que causou muita revolta entre entusiastas. A maior justificativa para a insatisfação é a ausência de possibilidade de autodefesa. Mas aí fica a questão: será que as armas são a solução para o problema da criminalidade?

Seria uma grande mentira se eu dissesse que nunca tive a vontade de ter uma arma, principalmente após o nascimento da minha filha, mas foi exatamente por ela que mudei de ideia. Em conversa com um aluno de cursinho, um PM, ele me disse dos benefícios de ter ou não uma arma, apresentando os caminhos legais para ter a posse (lembrando que porte é restrito aos agentes de segurança). Percebi após nossa conversa que eu não era emocionalmente estável para ter uma coisa dessa e, além disso, ter uma arma com crianças e adolescentes em casa é um risco constante. 

Mas por que as pessoas querem tanto ter armas em casa? A principal justificativa é a falta de segurança pública e de confiança nos órgãos de segurança, aliado a um medo constante ante o aumento da criminalidade. Pois bem, neste ponto acho que poucos podem discordar. Entretanto, passar a responsabilidade do Estado para os indivíduos possui um revés imenso. Como apresentou Max Weber, “o Estado deve deter o controle do uso da força (violência)”, dado pelo fato de ser impessoal, ou seja, de não carregar suas emoções para o momento da ação. Seria bonito se fosse assim, não é?

Acontece que somos violentos, todos nós, eu, você, seu vizinho e claro, o bandido. A diferença está no nível de estresse necessário para extrapolar os limites do aceitável, ou ainda, nas motivações e direcionamentos de cada ação. De nenhuma forma estou comparando você e eu a um bandido, mas digo da violência que emana de cada um de nós. Se engana quem acha que falo apenas de violência física, normalmente ela é o ápice de uma explosão de outras violências. 

O problema das armas, e isso é opinião minha, facilitam as respostas a violência, na maioria das vezes de forma desproporcional, vejamos os casos de atentados em escolas e mortes no trânsito. Facas podem ser usadas, pedaços de pau, tijolos e, até mesmo, um liquidificador – como disse um ex-ministro -, mas a diferença está no fato de que uma arma não tem outra função. Antes de nos preocuparmos em ter armas para nos defender, acredito que seja necessário um olhar mais empático com as forças de segurança, dando condições adequadas para que realizem seus trabalhos. 

Existem muitos problemas nas atuais corporações, materiais e humanos – nem todos deveriam estar ali, mas não podemos generalizar -, mas sua existência é necessária para a manutenção da ordem pública. Enquanto indivíduos talvez fossemos capazes de ter armas, mas enquanto sociedade a coisa é bem diferente. Não se trata de mim ou de você, mas dos que encontraremos pelo caminho. Lembrando que armas também matam esposas que queriam ir embora, filhos que não corresponderam às expectativas, matam vizinhos, matam adolescentes que negaram um flerte... Matam os que não acham outra saída. A questão nunca foi a arma, mas a violência nossa de cada dia.