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Os nós que estão em nós

Da Redação

| Edição de 26 de setembro de 2024 | Atualizado em 26 de setembro de 2024

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Minha filha ainda não aprendeu a fazer o nó em seu tênis, pelo menos não como esperávamos. Talvez tenhamos dado calçados com velcro durante muito tempo, quem sabe ela simplesmente não tenha compreendido que os nós nem sempre são feitos para prender definitivamente, vez ou outra, eles devem ser sutis para que se soltem com a leveza de um puxão.

Existem infinitos nós em nós, alguns nos prendem, mas outros nos suportam, protegendo quando tais ou outros nós se desatam. O mesmo nó que aprisionava pessoa pelo pescoço, pode ser o nó que o manterá preso a montanha de onde você teima em não cair. Sei que o exemplo é forte, mas esse é um dos exemplos absurdos e mágicos do que nós podem fazer.

Os nós de corda são engenhosos e carregam uma simbologia profunda. Quando atados com precisão, eles proporcionam firmeza e segurança, mantendo estruturas unidas e estáveis. Mas a grandeza de um nó está justamente na sua dualidade: ao mesmo tempo que mantém, pode ser desfeito, liberando aquilo que estava contido. Essa metáfora se aplica às nossas vidas em diversos aspectos.

Na busca por segurança, muitas vezes atamos nós em nossas relações, em nossas escolhas e na maneira como construímos nossas rotinas. Estes nós simbolizam os laços que nos conectam ao mundo, às pessoas e aos nossos valores. São eles que nos dão a sensação de pertencimento e proteção. No entanto, para que esses nós funcionem bem, precisam ser feitos com cuidado, sem aperto excessivo. Afinal, um nó muito apertado sufoca, restringe a liberdade e, em vez de nos manter seguros, pode nos aprisionar. Eu sei que você me entendeu, afinal, esse exemplo vale para casa, trabalho e o mundo inteirinho, onde nós existem entre nós. Nem todos são bons ou maus, alguns são apenas nós, talvez sem o plural ou mais ninguém, afinal a culpa de nós pode ser nós mesmos.

Por outro lado, a liberdade não é o oposto da união. Ela se revela justamente quando encontramos o equilíbrio entre estarmos ligados aos outros e podermos ser autônomos. Um nó que pode ser desfeito sem esforço, no momento certo, representa a sabedoria de saber quando soltar e quando apertar. Assim é a vida: cheia de nós que nos conectam às pessoas, aos projetos, mas que também precisam de flexibilidade para não se tornarem amarras.

E, por fim, o ato de atar e desatar nós é o que fortalece a união. Vivemos em uma sociedade que se constrói sobre essas conexões, sobre a confiança de que os laços que criamos podem ser tanto pontos de segurança quanto passagens para a liberdade. A verdadeira força está em saber que podemos contar uns com os outros, mas também em permitir que cada um tenha sua liberdade de ir e vir. No equilíbrio entre a união e a liberdade, encontramos nossa maior segurança. Assim como os nós de corda, é na delicadeza e na firmeza desses laços que aprendemos a viver em harmonia. Quero que minha filha aprenda sim a amarrar os sapatos, mas que ela se sinta confortável em usar um chinelo ou Crocs de vez em quando. É o que nós esperamos, sem apertar, afinal, somos os nós dela e uma hora ela vai aprender a construir seus próprios nós, que bom será ter feito o nó corretamente a ponto de se tornar um eterno laço.

Thays N. D. Bomba