COLUNAS

min de leitura - #

O bullying mata, triplica as chances de suicídio e pode criar homicidas

Da Redação

| Edição de 30 de março de 2023 | Atualizado em 30 de março de 2023

Fique por dentro do que acontece em Apucarana, Arapongas e região, assine a Tribuna do Norte.

Estamos nos últimos dias de março, mas parece que precisamos antecipar as discussões do tal Setembro Amarelo. Essa semana, mais uma atrocidade acometeu os noticiários nacionais, após um aluno de 13 anos ter atacado vários alunos e professoras com uma faca. Vestindo uma máscara preta de caveira, o jovem entrou na escola e foi direto aos seus alvos, desferindo golpes em colegas e em uma professora de 71 anos, que não resistiu aos ferimentos e veio a óbito no mesmo dia. 

Neste caso, em específico, o autor do crime era, segundo testemunhas, um agressor constante e teria cometido bullying e racismo contra um colega na semana anterior. Após uma discussão que chegou em vias de fato, a briga foi separada pela professora que se tornou alvo dos ataques. A professora Elizabeth Tenreiro, cientista aposentada, acreditava que poderia mudar as vidas das crianças através da educação, por isso havia iniciado neste ano o novo desafio em sala de aula. 

Essa história se torna mais uma em meio a uma onda de ataques em escolas e colégios, onde hora ou outra, surge a justificativa do bullying para os ataques. Com inúmeras mortes de alunos e professores, sem falar dos casos de suicídio que tendem a aparecer menos na mídia – por se tornarem gatilhos – vemos uma endemia de mortes que poderiam ser evitadas. 

Eu sei, caro leitor e leitora, que se você tem mais de 30 anos, provavelmente vá dizer que em sua época “as brincadeiras” e “zoações” existiam e isso nunca ocorria. Mas, será mesmo? Confesso que, na maior parte da minha vida escolar, sofri o que hoje chamamos de bullying, seja pela excessiva magreza (sim, acredite se quiser), seja pelo jeitinho afeminado – assim chamado pela convivência com minhas quatro irmãs mais velhas e minha amiga Artemísia, que me ensinavam a ser mais delicado – ou, ainda que de forma sutil, por piadas relacionadas as minhas roupas e falta de dinheiro para acompanhar os colegas mais abastados. No meu caso, por uma supervisão constante e atenta dos pais e irmãs, pude passar por tudo isso, mas nunca ileso. Carrego uma insegurança imensa com aparência – como pode reparar em todo PodCast – e uma gigante falta de autoconfiança em tudo que produzo, mas coisa já tratada em terapia. 

Entretanto, por um período me tornei também o causador de constrangimento, quando o jogo de poder se invertia e, controlando a atenção de todos, tirava de mim qualquer olhar suspeito o direcionando sobre outros, sem pensar em suas próprias angústias. Mas chega o momento em que você percebe o erro, e é maravilhoso quando ainda há tempo de consertar o que quebramos por aí. Já com muitas pessoas, que não sabemos a trajetória, uma “piadinha” pode simplesmente ser o fim. 

Uma piada só é engraçada quando todos podem rir com ela, inclusive o seu alvo. Mas não esqueça, que muitas vezes, as pessoas que parecem não se importar podem ser aquelas que mais a sentem, que após algum tempo, podem atentar contra a vida dos “colegas” e até mesmo contra as próprias vidas. 

Não caro leitor, o mundo não ficou “chato”. Ele simplesmente tem evoluído para que possamos entender que o que antes fingíamos que não existia, não só existe, como fere profundamente. Somos a geração de pessoas inseguras e “quebradas” que segura com força em qualquer esperança de ser feliz, mas com a incapacidade de ser inteiramente. E nós, hoje adultos, parecemos cobrar de uma geração que nós mesmos educamos que sejam melhores do que fomos um dia, porém, não queremos sê-lo. O bullying não é motivo nem justificativa para qualquer assassinato, mas ele pode estar atrelado a morte, mesmo que seja em vida. Fique atento aos seus filhos e amigos, mas procure dentro de si também essas marcas, elas nem sempre são superficiais, e é preciso estar disposto a ir fundo de si mesmo. Mude, para depois mudar o mundo.