Os eventos climáticos cada vez mais constantes e agressivos têm desafiado agricultores da região. Após mais de 40 dias de estiagem e uma onda de calor fora de época, a chuva voltou com força no último fim de semana, derrubando as temperaturas a 3,7 °C no início da semana com registro de geada leve e moderada. Essas mudanças bruscas no tempo causaram danos severos à agricultura e, consequentemente, prejuízos aos produtores rurais.
Conforme o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab), a cultura mais prejudicada é o trigo, com perda estimada em 84 mil toneladas na regional da Seab de Apucarana que abrange 13 municípios da região, com prejuízo financeiro de aproximadamente R$ 106,4 milhões.
“Foram dois períodos de seca nesta safra, então o prejuízo do trigo será mais acentuado em comparação com as demais culturas”, analisa o técnico do Deral, Adriano Nunomura.
Na propriedade do agricultor Claudio Lourenço, na região da Água da Juruba, em Apucarana, a seca prejudicou 70% dos 100 alqueires de trigo. E depois do calor fora de época, veio a geada para castigar ainda mais a lavoura. “Teve uma área que plantamos mais tarde e que deve ter sido afetada. Temos que esperar alguns dias para ver, mas acho que o prejuízo da geada vai ser grande para quem tem trigo atrasado”, comenta Lourenço.
Com mudanças climáticas bruscas e sucessivas, os agricultores tentam se adaptar para dar continuidade aos trabalhos no campo. Mas segundo Lourenço, a dificuldade é constante quando se depende do clima e do tempo para trabalhar. “A dificuldade é constante, porque a agricultura depende do tempo. Antigamente o clima era mais certo. Hoje em dia é mais bagunçado com pouca chuva. E esse frio não era para vir agora. Essas mudanças bruscas atrapalham a produtividade”, analisa.
O veranico – calor fora de época – também afetou as plantações de café, e algumas lavouras apresentaram florescimento precoce, o que pode causar maturação desuniforme e atrapalhar a colheita que está quase finalizada na região. Segundo o Deral a chuva registrada no último fim de semana sanou o déficit hídrico do solo, mas precedeu a chegada da geada que danificou diversas culturas como hortaliças, fumo, banana, trigo e sobretudo, áreas de pastagem. O prejuízo geral está sendo apurado pelo Deral.
Agricultores buscam alternativas
A mudança climática também afetou significativamente a agricultura na região de Ivaiporã, trazendo desafios e perdas em várias culturas. Carlos Eduardo dos Santos, médico veterinário e agricultor de Jardim Alegre que planta soja e trigo em uma área de 50 alqueires, afirma que as condições climáticas extremas ocorrem de forma repetitiva nos últimos três anos.
Sobre as estratégias para minimizar as perdas, Carlos sugere a otimização dos recursos disponíveis. “A estratégia hoje é dinamizar os recursos, utilizar os equipamentos de forma eficiente, fazer parcerias com os vizinhos e reduzir os custos fixos. Os insumos já são muito caros, então precisamos encontrar maneiras de investir menos sem comprometer a produtividade”, explicou.
Ele ainda mencionou que a irrigação, embora ainda não seja uma realidade na região devido aos altos custos, pode se tornar uma alternativa viável no futuro, especialmente em áreas onde o clima se mostra mais severo.
Agricultores da região procuram soluções
Diante das adversidades enfrentadas nos últimos anos, o agricultor da região de Ivaiporã, Marcos Kruzel, com seus dois filhos Matheus Eduardo e Rafael, passou a apostar no plantio protegido e recentemente construiu duas estufas para o cultivo de tomates, garantindo assim a subsistência da família.
“Sempre plantamos soja, trigo e milho, mas nos últimos anos, tivemos muitos prejuízos com a lavoura aberta devido ao clima destemperado. Não conseguimos mais produzir de forma eficiente”, relatou Matheus.
“Aqui, não temos problema com a falta de água. Temos uma mina protegida e, até agora, nunca precisamos usar a água do córrego”, destacou Matheus, reforçando que a estabilidade do abastecimento é um diferencial para o sucesso da nova empreitada.
A família diz que, por enquanto, deve continuar com a cultura tradicional, mas pretende expandir, diversificando ainda mais suas atividades e fortalecendo a agricultura familiar.