Médicos da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), de Apucarana, procuraram a Tribuna para denunciar a falta de pagamento desde outubro de 2024. Segundo os relatos, 19 profissionais ficaram sem receber naquele mês. Os atrasos atingiram outros profissionais até o final do ano. Em novembro, o número de médicos que não receberam chegou a 25 e subiu para 46 no total em dezembro. O prefeito Rodolfo Mota (União Brasil) admite o problema herdado da gestão anterior e diz que a dívida com esses prestadores de serviço chega a R$ 500 mil. (Veja no box)
O médico generalista Johnny Gabriel de Oliveira, formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), destacou o impacto dessas dificuldades: “Esses atrasos prejudicam não apenas os médicos, mas a população. Se esses profissionais decidissem parar, a UPA perderia quase sete dias de atendimento em um único mês, o que significa cerca de 3 mil consultas a menos.”
Apesar das adversidades, Johnny afirma continuar atendendo na UPA: “Meu compromisso é com as pessoas de Apucarana. Entendo a gravidade da situação, mas não quero abandonar a população que depende de nós.” Ele ainda apontou problemas estruturais na contratação dos médicos, com a terceirização por empresas que, segundo ele, priorizam lucros e precarizam o serviço.
Com a nova gestão revisando contratos e decretando moratória, a expectativa dos profissionais é que os pagamentos sejam regularizados em breve. Porém, Johnny alerta para a necessidade de uma reforma mais ampla no modelo de prestação de serviços: “Precisamos de contratos justos e transparência para que a saúde não seja tratada como uma linha de produção. Somos essenciais para a população, e nosso trabalho deve ser valorizado”.
Outro problema apontado é a falta de medicamentos essenciais na UPA, incluindo analgésicos, anti-inflamatórios e remédios de emergência. Essa carência tem forçado o encaminhamento de casos simples para o Hospital da Providência, aumentando a sobrecarga em outros setores da saúde.
O secretário de Saúde do município, Guilherme de Paula, reconheceu os atrasos e afirmou que o problema atinge tanto médicos credenciados quanto terceirizados. Ele também negou que os profissionais que não receberam tenham sido desligados e disse que a nova gestão está reestruturando o sistema de comunicação e gerenciamento de recursos para evitar falhas futuras.
“A saúde de Apucarana tem uma equipe muito boa, mas faltou organização dos trabalhos e melhor comunicação. Estamos resolvendo a situação e buscando restabelecer o equilíbrio necessário para a rede”, afirmou o secretário.
Rodolfo Mota afirma que município busca solução
O prefeito Rodolfo Mota afirmou à Tribuna nesta sexta-feira (10) que sua gestão ainda está fazendo um levantamento sobre a questão e que já busca uma solução.
“Nós estamos fazendo um levantamento das horas devidas, valores e quem são esses médicos. São três meses, de acordo com os primeiros levantamentos, sem pagamento para os médicos que atendem na UPA. Creio que na próxima semana a Autarquia de Saúde deve ter isso pronto para a gente saber qual é o valor”, disse.
De acordo com Mota, o que já se sabe é que a dívida do Município com os médicos já passa de R$ 500 mil. “São milhares de horas para dezenas de médicos e outras quatro empresas. Mais de meio milhão de reais são devidos aos médicos da UPA”, destaca.
Para o prefeito, embora tenha assumido há poucos dias, é sua obrigação encontrar a solução. “É importante lembrar que eu sou prefeito há nove dias. É uma situação que nós pegamos de desorganização da administração anterior. É nossa obrigação resolver isso, eu preciso arrumar a documentação e o dinheiro para pagar, mas, se Deus quiser, nos próximos dias, nós vamos encaminhar uma solução para isso”, pontua.
Rodolfo Mota também confirmou que a falta de medicação na UPA e nas UBS’s, além da falta de manutenção e material de trabalho no Samu já foram constatados pela gestão.
“Faltam medicações básicas na UPA e nas unidades básicas de saúde. No Samu também temos veículos sem troca de óleo, veículos parados por falta da troca da pastilha de freio, problemas de embreagem, motores fundidos, enfim, tem muita coisa acontecendo, mas nós estamos organizando”, salienta.
Quanto à medicação em falta, o município já conseguiu repor um pouco do estoque. “Alguns medicamentos nós já conseguimos, inclusive nesses primeiros dias, já foram entregues na UPA e as demais nós já fizemos levantamento para realizar a compra nos próximos dias”, ressalta o prefeito.